sexta-feira, 18/10/2024
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Extremos climáticos serão cada vez mais frequentes, alertam especialistas

A exemplo do Rio Grande do Sul, outras regiões do Brasil podem ser afetadas por situações diversas, como secas severas, calor intenso e incêndios florestais

 

O Relatório Síntese sobre Mudança Climática, lançado há um ano pelo Painel Intergovernamental sobre Mudanças Climáticas (IPCC), previu intensidade de chuvas, secas severas, ondas de calor e frequência de incêndios florestais, atingindo especialmente populações vulneráveis e ecossistemas mais frágeis. Diante da calamidade que atinge o Rio Grande do Sul, estudiosos do clima fazem coro às perspectivas apresentadas pelo órgão da ONU e projetam que eventos como o que marca a história do Estado brasileiro serão cada vez mais frequentes.

Uma das autoridades brasileiras em clima, o cientista Carlos Nobre, pesquisador do Instituto de Estudos Avançados da Universidade de São Paulo (IEA-USP), avalia que as chuvas intensas, que culminaram nas enchentes que atingem o Rio Grande do Sul, são resultado do aquecimento global. O especialista explica que quanto mais quente a água dos oceanos, condição que vem se verificando na atualidade, maior a evaporação. A água evaporada, destaca, é veículo para todos os eventos climáticos, incluindo os extremos.

Modelos trazidos pelo relatório do IPCC indicam que em curto prazo diferentes eventos climáticos podem atingir uma mesma localidade.

“Um fenômeno que podia acontecer a cada 100, 200 anos lá atrás, agora está acontecendo frequentemente e pode acontecer várias vezes por década”, afirma Nobre.

A ocorrência de eventos climáticos pode comprometer vários biomas brasileiros. De acordo com especialistas, mais seca a Amazônia pode passar por um processo de savanização. Na Caatinga, a ameaça é a desertificação. No Cerrado, o aumento das temperaturas deve elevar exponencialmente o risco de incêndios.

Regionalmente, no Norte do País, pode haver crise de abastecimento de energia elétrica, além do comprometimento na mobilidade, uma vez que boa parte das populações utiliza os rios como transporte. No Sudeste, os moradores tendem a enfrentar ondas severas de calor e enchentes. No Sul, o que já se verifica é o aumento da quantidade de chuvas, com todas as intercorrências observadas desde o final de abril deste ano, quando as enchentes mudaram a realidade do Rio Grande do Sul.

 

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Para Marina Silva, ministra do Meio Ambiente e Mudança do Clima, os alertas são anteriores ao relatório do IPCC. “Nós tínhamos que ter começado, governos, empresas, todos, trabalhando a partir da ECO-92, quando se fez o grande acordo internacional de que era preciso fazer o enfrentamento da mudança climática, usando o princípio da precaução”, diz. “Muitos diziam que aquilo era ecoterrorismo, que aquilo não ia acontecer, e infelizmente está acontecendo.”

No caso específico do Rio Grande do Sul, dados do Inmet (Instituto Nacional de Meteorologia), o número de dias em que foram observados extremos de precipitação, com volumes de chuva acima de 50 milímetros, aumentou a cada década na capital do Estado. Entre 1961 e 1970 foram 29 dias, passando a 44 em 2001 e subindo para 66 dias entre 2011 e 2020.

De acordo com o IPCC, o aumento comprovado da temperatura média global tem potencial para agravar insegurança alimentar e hídrica em todo o mundo. Quando se fala em insegurança alimentar, a maioria das pessoas pensa em produção de alimentos. Mas há outros aspectos a serem considerados, como armazenamento e transporte.

Ainda segundo o Relatório Síntese sobre Mudança Climática, para que as temperaturas se mantenham em 1,5oC acima dos níveis pré-industriais, como preconiza o Acordo de Paris, será fundamental cortar quase pela metade as emissões de gases de efeito estufa até 2030.

A solução proposta pelo órgão da ONU é o “desenvolvimento resiliente do clima”. Neste conjunto de ações, expansão do acesso à energia limpa, eletrificação com baixa emissão de carbono, meios de transportes com zero ou baixa emissão de CO2 e melhora da qualidade do ar são imperativos.

Um dos autores do relatório do IPCC, Chistopher Trisos avalia que estas ações só poderão ser viabilizadas se houver aumento significativo e aplicação efetiva de financiamento. “Financiamento insuficiente e desalinhado está atrasando o progresso”, conclui.

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