Pesquisa da Ufopa revela que SAFs combinam diversidade produtiva, sequestro de carbono e geração de renda para agricultores familiares
Sistemas Agroflorestais (SAFs) têm se consolidado como estratégia de resiliência ambiental e combate às mudanças climáticas na Amazônia. Uma pesquisa do Instituto de Biodiversidade e Florestas da Universidade Federal do Oeste do Pará (Ufopa), mostra que esse modelo alia sustentabilidade ambiental à geração de renda, especialmente para agricultores familiares, quilombolas e extrativistas.
“Os sistemas agroflorestais envolvem o cultivo consorciado de espécies agrícolas, florestais e, em alguns casos, animais. Além de recuperar práticas ancestrais, eles se apresentam como alternativa viável para diversificação da produção, segurança alimentar e manutenção dos serviços ambientais”, explica Pesquisa de Daniela Pauletto, professora do Instituto e responsável pela pesquisa.
A tese Sistemas Agroflorestais na Amazônia Oriental: Análise da adoção, composição e características socioambientais, defendida em abril deste ano, investigou 75 SAFs em sete municípios do Oeste do Pará, como Santarém, Belterra e Rurópolis. O estudo revelou uma elevada diversidade de espécies, com predomínio das frutíferas, refletindo as escolhas dos agricultores.
Leia Mais:
- Fermentação transforma cerejas verdes de café em bebida especial
- Agro busca se unir pela solução da crise climática durante a COP30
- Dieta cetogênica pode evitar convulsões de epilepsia
“Nos SAFs amazônicos, as árvores não são voltadas para madeira, mas para frutas. O componente florestal serve majoritariamente à alimentação e ao mercado de frutos como cacau e cupuaçu”, destaca a pesquisadora.
Cumaru como motor de expansão
Um dos principais impulsionadores dos sistemas é o cumaru (Dipteryx odorata). A espécie, valorizada pelo mercado de sementes, tem estimulado a ampliação das áreas agroflorestais sem competir com cultivos tradicionais como mandioca e feijão.
“O cumaru gera renda rapidamente, começa a produzir em dois anos e meio e, com quatro anos, já garante colheitas estáveis. Isso permite que agricultores invistam também em espécies mais exigentes”, explica Pauletto.
Laboratório vivo
O estudo também evidencia o papel central dos quintais agroflorestais (QAFs), presentes em praticamente todas as residências rurais. Esses espaços funcionam como áreas de experimentação, onde agricultores testam mudas, avaliam espécies e mantêm elevada diversidade de plantas alimentares e medicinais.
“Os quintais são espaços sociais e ecológicos. Além de fornecer alimentos e remédios, servem como locais de convivência, descanso e até práticas religiosas”, afirma a pesquisadora.
Para Pauletto, os SAFs reforçam a capacidade da agricultura familiar amazônica em responder às mudanças climáticas, ao mesmo tempo em que ampliam a segurança alimentar e a renda. “Eles se tornaram peças-chave para pensar um futuro sustentável na Amazônia Oriental”, conclui.




