quinta-feira, 27/11/2025
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Rede internacional avança em pesquisa para transformar algas marinhas em alternativa sustentável

Projeto liderado pela Embrapa no Brasil desenvolve tecnologias para uso de algas em novos alimentos, incluindo protótipos de pescado vegetal

 

Um consórcio internacional de pesquisa que reúne instituições do Brasil e da Europa deu início a um projeto de três anos para desenvolver tecnologias capazes de transformar algas marinhas em uma alternativa sustentável ao pescado tradicional. No Brasil, a iniciativa é coordenada pela Embrapa Agroindústria de Alimentos (RJ) e surge em um momento marcado pela pressão crescente sobre estoques pesqueiros e pela demanda global por fontes proteicas de menor impacto ambiental.

O interesse científico nas algas avança por múltiplas razões. Elas crescem rapidamente, não dependem de água doce nem fertilizantes e ainda capturam carbono, contribuindo para a mitigação das mudanças climáticas. Também são ricas em fibras, minerais, vitaminas e compostos como ômega-3, o que tem ampliado sua atratividade como ingrediente para novos alimentos, segundo a pesquisadora Fabíola Fogaça, que lidera o projeto no Brasil.

Apesar desse potencial, a aceitação das algas ainda é considerada um desafio, especialmente no mercado brasileiro. O sabor pronunciado, a coloração e a textura são apontados como barreiras quando o objetivo é criar produtos que se aproximem do perfil sensorial dos alimentos de origem animal. A pesquisa busca justamente superar essa etapa, desenvolvendo processos de cultivo e transformação que resultem em ingredientes mais neutros e adequados a aplicações diversas.

Um dos protótipos previstos é um pescado vegetal em conserva, inspirado no atum enlatado, elaborado a partir da combinação de algas marinhas e outros ingredientes vegetais ricos em proteínas. A expectativa é que o produto se aproxime do sabor, aroma e consistência do atum tradicional, com vantagens adicionais como ausência de colesterol e menor impacto ambiental.

 

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A fase brasileira do projeto reúne pesquisadores de três unidades da Embrapa — Agroindústria de Alimentos (RJ), Agroindústria Tropical (CE) e Instrumentação (SP) — além de iniciativas de cultivo na Costa Verde (RJ). O plano de trabalho inclui o desenvolvimento de um sistema indoor otimizado para produção de algas, protocolos validados de processamento e conservação da biomassa com foco em atributos sensoriais, criação de protótipos de pescado vegetal, capacitação de técnicos e produtores, além de publicações científicas e possível geração de patentes.

A pesquisa integra o Sustainable Blue Economy Partnership (SBEP), iniciativa do programa Horizonte Europa que reúne 74 instituições de 30 países e a Comissão Europeia, com foco na construção de uma economia azul sustentável. No Brasil, o financiamento é coordenado pela Fundação de Amparo à Pesquisa do Estado do Rio de Janeiro (Faperj).

Além do impacto na alimentação, as algas são consideradas estratégicas para a bioeconomia azul por promoverem benefícios ambientais como purificação da água, sequestro de carbono e recuperação de ecossistemas costeiros. Também podem gerar novas oportunidades de renda para comunidades litorâneas, ampliando a diversificação econômica local. Para Fogaça, o potencial brasileiro é particularmente relevante devido aos mais de 8 mil quilômetros de litoral e à possibilidade de estruturar cadeias produtivas voltadas para pequenos produtores.

O projeto deve entregar, ao final dos 36 meses, protótipos prontos para avaliação pela indústria e consumidores. O avanço global do mercado de pescados vegetais reforça a oportunidade: estimativas apontam para um movimento de US$ 2,5 bilhões até 2032. Segundo os pesquisadores, o interesse crescente por proteínas sustentáveis indica que o desenvolvimento de ingredientes à base de algas pode posicionar o Brasil em uma rota estratégica de inovação na economia do mar.

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