quinta-feira, 21/11/2024
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Entrevista: Ambição sustentável no futuro

Diogo Rezende, diretor Comercial da Yara, ressalta os pilares estratégicos de neutralidade climática, agricultura regenerativa e prosperidade para convergir com um futuro alimentar positivo para a natureza

 

Empresa centenária, a Yara desenvolve um legado de inovação e colaboração. Atualmente, a ambição de cultivar um futuro alimentar positivo para a natureza é o que move a companhia. E essa ambição, como destaca Diogo Rezende, diretor comercial da Yara Brasil, em uma entrevista exclusiva ao Portal FTH News, se faz cada vez mais presente nas operações e na estratégia de negócio. “Nossa atuação é global e combina soluções nutricionais de alta tecnologia ao conhecimento agronômico, às ferramentas digitais e a investimentos crescentes em pesquisa e desenvolvimento”, afirma.

Com esforços concentrados em Neutralidade Climática, Agricultura Regenerativa e Prosperidade, três pilares estratégicos, a empresa trabalha para aprimorar e evoluir sua expertise no desafio de alimentar milhões de pessoas, ao mesmo tempo em que inova e impacta toda uma indústria para solucionar questões globais urgentes.

A principal aposta da Yara é a transição energética voltada à sustentabilidade, com uso de energia limpa para descarbonizar as indústrias química e de fertilizantes. “No Brasil, a incorporação do biometano no processo produtivo será estratégica para produção de amônia verde”, destaca Rezende.

Confira a entrevista completa:

Empresa centenária, a Yara desenvolve um legado de inovação e colaboração.

Em 1905, início das operações da Yara, uma preocupação iminente das nações civilizadas era a capacidade de produção de alimentos diante do aumento populacional. Até 2050, com uma população estimada em 10 bilhões de pessoas, a FAO considera a necessidade de produzir 70% mais alimentos (entre 2010 e 2050). A partir deste desafio, qual é a contribuição da Yara no presente, visando este futuro não tão distante?

Diogo Rezende: Ao longo de sua história, a Yara desenvolve um legado de inovação e colaboração, auxiliando gerações de agricultores a cultivar alimentos e a criar comunidades prósperas. Viabilizamos no início do século XX as bases para a produção do fertilizante nitrogenado em larga escala, que foi determinante para ajudar a combater a fome na Europa, tornando o solo capaz de fornecer alimentos para suprir o aumento da população. Com mais de 100 anos de atuação, a Yara segue em evolução no Brasil e no mundo transformando todo seu conhecimento em prática para ajudar a alimentar as populações de forma responsável. Hoje nos tornamos mais do que produtores de fertilizante nitrogenado, somos parceiros do produtor, atuando em uma abordagem integrada para acelerar e incorporar resultados positivos para a natureza e o clima na agricultura. Nossa contribuição, portanto, é oferecer soluções para o desenvolvimento sustentável, tornando a produção cada vez mais próspera, para alcançarmos a segurança alimentar sem que novas áreas sejam abertas.

A Yara tem um grande foco em pesquisas, com a participação de 50 instituições. Grande parte destes pesquisadores está nas universidades? Qual é a participação das startups brasileiras nestas pesquisas e inovações?

Diogo Rezende: A Yara concentra esforços em três pilares estratégicos: Neutralidade Climática, Agricultura Regenerativa e Prosperidade. Na atuação dentro desses eixos, mantemos uma relação muito próxima ao ambiente acadêmico, que com base em ciência e pesquisa contribui para o desenvolvimento de técnicas e soluções que impactam no aumento da produtividade, na qualidade e sustentabilidade dos cultivos. Atualmente, conduzimos cerca de 150 projetos, envolvendo aproximadamente 50 instituições de ensino e de pesquisa, como a Universidade de Lavras (em estudo focado no café), Unesp, em Botucatu (fertirrigação em plantio de laranja), entre outras. Contamos ainda com parcerias relevantes como a Embrapa para a promoção de iniciativas de impactos social, ambiental e de governança. Além disso, em linha com nossa missão de cultivar um futuro alimentar positivo para a natureza, investimos recursos em inovação e tecnologia por meio de iniciativas globais, com destaque para a startup Varda (ferramenta de identificação de talhão agrícola) e Agoro Carbon (solução que incentiva adoção de práticas agrícolas com foco no mercado de carbono).

É imperativo que todos os setores produtivos, incluindo especialmente o agronegócio, considerem a redução da pegada de carbono. Quais têm sido as ações da Yara neste sentido?

Diogo Rezende: A Yara tem como sua principal aposta a transição energética na direção da sustentabilidade, com uso de energia limpa para descarbonizar as indústrias química e de fertilizantes. No Brasil, a incorporação do biometano no processo produtivo será estratégica para produção de amônia verde. Esse biometano é oriundo da Raízen, em acordo firmado para que a Yara comece a substituir o gás natural utilizado no Complexo de Cubatão. É a partir do biometano que se faz a amônia verde, que entre algumas das aplicações estão o uso como combustível de baixo carbono para a indústria de transporte marítimo, a descarbonização de outras indústrias que fazem uso intensivo de energia, e a produção de fertilizantes de baixo carbono. Importante destacar que além do fertilizante de baixo carbono, uma solução avançada para uma redução acentuada das emissões, a Yara é uma das pioneiras em trazer opções de produto com menor impacto ambiental, do ciclo produtivo à aplicação final, já disponíveis para o mercado.

Desde 2005, por exemplo, com tecnologia que utiliza catalisadores nas fábricas, a companhia reduziu as emissões de suas operações globais em 45%.

Quais são os avanços e resultados a partir da jornada iniciada pela Yara na produção de fertilizantes?

Diogo Rezende: A Yara está focada em se firmar como a principal parceira de agricultores e cadeia de produção de alimentos, fornecendo soluções nutricionais sustentáveis para ajudá-los a produzir mais, de maneira sustentável e responsável. Moldamos nas últimas duas décadas um modelo de negócio global único, voltado à oferta de produtos diferenciados ao agricultor.  Aqui no Brasil, estamos expandindo nosso modelo de negócio e nossa forma de atuação, ampliando o escopo para o desenvolvimento de soluções para promover a segurança alimentar e trabalhando ao lado de parceiros que possuem a mesma visão. Desde 2012, investimos R$ 15 bilhões no País, entre aquisições de empresas e construção, ampliação e modernização de fábricas e unidades misturadoras, fomentando a produção doméstica de insumos e reduzindo a dependência por fertilizantes vindos do Exterior. Além disso, colocamos em prática uma nova estratégia comercial que oferece soluções nutricionais com maior valor agregado e revisamos nosso portfólio para ir além do fertilizante mineral tradicional, investindo também em matrizes orgânicas para abrir caminho na oferta de produtos cada vez mais alinhados com as premissas da agricultura regenerativa.

Como é possível combinar sustentabilidade com necessidades produtivas no agronegócio?

Diogo Rezende: Mais do que uma possibilidade, essa combinação é uma realidade na Yara. Trabalhamos simultaneamente em diversas frentes direcionadas a produtividade e práticas sustentáveis, conjugando pesquisa, conhecimento agronômico e ferramentas digitais que atendam as particularidades de cada região onde estamos. No Brasil, contamos com o único centro de pesquisas da empresa nas Américas, o Yara Knowledge Grows Center, em Sumaré, interior de São Paulo. Pautados na ciência, desenvolvemos e testamos fertilizantes de alta tecnologia por meio de lavouras demonstrativas e em parceria com universidades e institutos de pesquisa renomados, que nos permitem criar um portfólio cada vez mais sustentável. No café, por exemplo, um dos estudos mostrou que o uso de soluções nutricionais à base de nitrato de amônio fez aumentar a produtividade do Arábica em quatro sacas por hectare. O levantamento também destacou a perda de nitrogênio por volatilização, influenciando diretamente na redução das emissões de gases de efeito estufa. Outra análise vem da laranja, usando como técnica a fertirrigação com base NPK (Nitrogênio, Fósforo e Potássio), que apontou incremento de produtividade, qualidade e rentabilidade. Além disso, o uso de fertirrigação trouxe ganhos para o ecossistema ambiental relacionados à preservação da saúde do solo, em linha com práticas da agricultura regenerativa.

Na outra ponta, a Yara reforça sempre a proximidade com o agricultor por meio de um time de campo que atua como parceiro do produtor, levando dicas agronômicas e apresentando as vantagens do uso de recursos e ferramentas digitais para incrementar a produção e proporcionar novas fontes de renda através de um portfólio de alto desempenho e sustentável. A evolução da agricultura depende de pesquisa e ciência, pois só assim vamos impactar todo ecossistema de forma positiva. Somos uma empresa centenária e dedicamos grande esforço na disseminação do nosso conhecimento na transformação do sistema alimentar. É junto ao agricultor que atuamos na restauração do solo, reduzimos a pegada de carbono e permitimos melhorar o acesso a alimentos saudáveis para a sociedade.

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Diante do ecossistema de tecnologias, visando o desenvolvimento da agricultura moderna, ainda há produtores brasileiros reticentes à aplicação de novos produtos com menor pegada de carbono e potencialmente sustentáveis?

Diogo Rezende: O Brasil e o agricultor brasileiro têm um papel fundamental no cenário global. A cadeia de valor dos alimentos está passando por grandes mudanças, posicionando a sustentabilidade como tema primordial. Essa demanda, ao mesmo tempo, ganha adesão de diversas camadas da sociedade, que passam a cobrar do setor produtivo atitudes mais responsáveis de todos os agentes envolvidos no ecossistema alimentar, e isso, evidentemente, inclui o produtor rural. Em contrapartida, é fundamental que sejam criadas fórmulas para que o agricultor seja remunerado não apenas pelo quanto produz, mas como produz. Nós, da Yara, estamos atentos a todo esse movimento e, com base em ciência e conhecimento, nos colocamos como parceiros nessa jornada para tornar a produção de alimentos mais resiliente, na qual a saúde dos solos e a biodiversidade da Terra sejam restaurados.

A agricultura regenerativa é um dos pilares da ambição da Yara. De que forma a empresa vem adaptando a agricultura regenerativa à agricultura tropical?

Diogo Rezende: A saúde do solo é crucial para a agricultura regenerativa, e os agricultores em todo o mundo estão se conscientizando de que a adoção de práticas sustentáveis é indispensável para melhorar a produtividade das lavouras e, com isso, obter maior rentabilidade. Quando falamos nessas práticas, a aplicação equilibrada de nutrientes tem papel relevante, não apenas para a saúde das culturas, mas também para prevenir a degradação e a poluição do solo. Por isso, a estratégia da Yara transcende a nutrição dos cultivos; ela inclui a saúde do solo como um dos seus principais pilares da agricultura regenerativa, em uma abordagem que acelera e integra resultados positivos para a natureza e o clima na agricultura, atributos que vão ao encontro da ambição da Yara de cultivar um futuro alimentar positivo para a natureza.

Embora ainda não exista um consenso definitivo sobre o que é agricultura regenerativa, na prática a Yara já aplica os conceitos dela derivados, com soluções em seu portfólio relacionadas, por exemplo, ao sequestro de carbono, à redução da emissão de gases de efeito estufa, ao aumento da eficiência do uso de nutriente e ao uso racional de recursos naturais, como a água.

Com essa base, estamos preparados para entender as necessidades que alcancem resultados em diferentes realidades agrícolas, como as de regiões tropicais, com destaque à realidade do solo brasileiro. Globalmente, trabalhamos para que o fertilizante mineral seja um componente-chave na agricultura regenerativa, pois fornecer ao solo os nutrientes que retiramos durante a colheita é fundamental para evitar a degradação do solo.

A Yara inicia na planta de Cubatão a produção do primeiro fertilizante verde do Brasil. Em que consiste este fertilizante verde? É realmente o primeiro produto no Brasil?Além do agronegócio, outras empresas se beneficiam da tecnologia?

Diogo Rezende: O fertilizante verde é obtido a partir da amônia verde, que pode ter origem de diversas fontes. Uma delas são as fontes renováveis, como energia eólica e solar, e outra é o biometano, que deriva do biogás purificado, originado de fontes de metano, como esgotos e resíduos do processo de produção de etanol. No Brasil, a Yara fechou parceria com a Raízen para a aquisição de biometano, o que possibilita produzir a amônia verde e, a partir dela, o fertilizante verde. Nacionalmente, a Yara já tem um acordo comercial com a Cooxupé para comercialização desse insumo. O uso permitirá diminuir a pegada climática envolvida na produção do café, aumentar a produtividade e a qualidade da cultura, junto às melhores práticas agrícolas. Nossa expectativa é de acelerar a disponibilidade desse insumo e, assim, ampliar sua adoção nas próximas safras também para outras culturas.

No portfólio abrangente da Yara, há os produtos os bioestimulantes. Em que consistem? Quais os benefícios trazidos ao agricultor?

Diogo Rezende: Em 2024, apresentamos ao mercado a linha YaraAmplix, cujos produtos contribuem para processos naturais do desenvolvimento vegetal, aumentando, por exemplo, a absorção de nutrientes. As formulações contêm uma mistura de nutrientes minerais tradicionais com substâncias de matriz orgânica, como algas marinhas, aminoácidos e extratos de plantas. O foco é trazer resiliência para as lavouras, frente a condições climáticas cada vez mais adversas, favorecer a saúde do solo, a biodiversidade e a otimização do uso de insumos. O Brasil, aliás, está na liderança na adoção desse tipo de insumo a partir de matrizes orgânicas. Essa realidade reflete, entre outros fatores, a percepção dos nossos produtores da importância da utilização de soluções agrícolas sustentáveis.

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