Estudo mostra aumento de até 34% em alface romana com produto feito a partir de metano residual capturado em fazendas e aterros sanitários
Um novo estudo de campo indica que fertilizantes produzidos a partir de microrganismos capazes de consumir metano residual podem aumentar significativamente a produtividade agrícola. Os testes conduzidos pelo Ag Metrics Group mostraram que o FOUNDATION — fertilizante orgânico desenvolvido pela Windfall Bio — elevou o rendimento da alface romana entre 23% e 34% em comparação com a farinha de penas convencional, desempenho equivalente ao de hidrolisados de soja mais caros. O resultado reforça o potencial de uma tecnologia que transforma um dos gases mais potentes do efeito estufa em insumo agrícola de alto valor.
A base do processo é o uso de comunidades de bactérias metanotróficas, microrganismos que convertem naturalmente metano em energia e capturam nitrogênio da atmosfera. Adaptados pela Windfall Bio para uso industrial, eles são incorporados a sistemas instalados em fazendas ou aterros sanitários, onde o metano residual é canalizado para tanques contendo composto, biochar ou meio líquido. O material resultante torna-se um fertilizante orgânico rico em nitrogênio, de ação rápida e liberação lenta, com certificação OMRI para uso orgânico segundo padrões do USDA.
O estudo com alface é o primeiro de uma série de testes que inclui tomate, brócolis, espinafre e alfaces de clima frio, parte de uma estratégia para demonstrar o potencial dessa abordagem em culturas diversas. A lógica é simples: transformar um gás que costuma ser liberado ou queimado — e cuja conversão em eletricidade ou biogás se tornou menos viável economicamente — em um insumo agrícola local, de menor custo e maior desempenho.
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Do lado dos agricultores, o atrativo está na eficiência e na facilidade de adoção. Em fazendas leiteiras, por exemplo, o sistema pode ser integrado a lagoas de dejetos, biodigestores ou áreas de compostagem, enriquecendo o material usado no solo e reduzindo gastos com fertilizantes convencionais. Em aterros sanitários, onde há maior volume de metano, o processo ocorre em meio líquido, permitindo produzir fertilizante concentrado para distribuição regional. O sistema dispensa grandes investimentos: um tanque adequado para manter os microrganismos em contato com o gás é suficiente para iniciar a operação.
A tecnologia também avança na direção de créditos de carbono, embora esse não seja o modelo de negócio central da empresa. Para a Windfall Bio, o desempenho agronômico — e não apenas o benefício ambiental — deverá ser o fator determinante para sua adoção em larga escala. O FOUNDATION é livre de patógenos, tem baixo teor de sódio e apresenta menor risco de perda de nitrogênio para o solo e lençóis freáticos, vantagens importantes sobre alternativas derivadas de proteína animal ou fertilizantes sintéticos.
Os avanços chegam em um momento de expansão estratégica da empresa. Desde 2022, a Windfall Bio já levantou US$ 37 milhões de investidores como Prelude Ventures e o Climate Pledge Fund da Amazon, e agora inicia sua rodada Série B para escalar a tecnologia. A empresa também firmou parceria com o aterro de Sunshine Canyon, no sul da Califórnia, e ampliou testes com produtores como a Straus Family Creamery, que avalia implementar o sistema em sua rede de fornecedores.
Com o aumento comprovado de produtividade e a capacidade de transformar metano residual em fertilizante de alto desempenho, a tecnologia aponta para um novo modelo de economia circular no campo — onde um gás poluente passa a alimentar diretamente o crescimento das lavouras.




