Aumento no interesse por soluções baseadas em IA e escassez de mão de obra ajudam a explicar virada no cenário da agtech
Startups de agricultura de precisão captaram mais capital de risco do que aquelas focadas em biotecnologia agrícola no segundo trimestre de 2025 — um marco que não acontecia desde o terceiro trimestre de 2017. Os dados, divulgados pela PitchBook, apontam para uma mudança relevante nas prioridades dos investidores em agrotecnologia.
Foram US$ 580 milhões investidos em 36 negócios ligados à agricultura de precisão, um salto de 71,2% em comparação com o trimestre anterior, mesmo com uma leve queda no número de transações. A categoria, segundo a PitchBook, inclui desde drones e análise de imagens até robótica, softwares de gestão agrícola e dispositivos conectados no campo.
A escassez de mão de obra no setor agrícola segue como principal força por trás do aumento no interesse por automação. Envelhecimento da força de trabalho e políticas migratórias mais restritivas têm acelerado a adoção de novas tecnologias, sobretudo em operações de maior escala. “Essa é uma tendência de longo prazo, e esperamos ver investimentos significativos continuando neste setor”, avalia o relatório. A entrada da inteligência artificial em aplicações agrícolas, como robôs autônomos, tende a intensificar esse movimento.
Dois negócios concentraram mais da metade dos aportes no setor no trimestre. A americana Muon Space arrecadou US$ 146 milhões em uma rodada Série B, enquanto a alemã Quantum Systems levantou US$ 178 milhões na Série C. Sem esses dois casos, o montante captado pelo setor ficaria em US$ 256 milhões — valor próximo ao registrado pela biotecnologia agrícola no mesmo período.
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Já o segmento de biotecnologia agrícola arrecadou US$ 270 milhões, uma queda de 72,5% em relação ao trimestre anterior. Os principais investimentos foram na Vestaron (US$ 108 milhões), Terviva (US$ 63,9 milhões) e Puna Bio (US$ 20,3 milhões). Segundo a PitchBook, o resultado pode estar ligado à “frustração crescente” dos investidores com a distância entre as promessas da biotecnologia e seus resultados concretos até agora.
Nesse cenário, tecnologias voltadas para desafios imediatos — como a escassez de mão de obra — parecem ganhar protagonismo, impulsionadas pelo potencial da IA e pela promessa de maior eficiência no campo.
As saídas seguem raras no setor, mas o trimestre teve algumas exceções. A John Deere adquiriu a plataforma de reconhecimento aéreo Sentera, e a DeHaat comprou o app de agricultura inteligente NEERX. [A AgFunder, controladora da AgFunderNews, é investidora da DeHaat e foi investidora da Sentera.]
No geral, o capital de risco em agtech continua em retração. O segundo trimestre de 2025 movimentou US$ 1,5 bilhão em 117 negócios — quedas de 22,8% em valor e 22,9% em volume frente ao trimestre anterior. A PitchBook projeta que esses números devem subir para US$ 1,8 bilhão e 140 negócios com atualizações, mas ainda abaixo da média de 2023 (US$ 1,9 bilhão e 265 negócios por trimestre).
Tendência aponta para soluções pragmáticas no campo
A reconfiguração no ranking de investimentos parece refletir uma virada pragmática do setor. Diante de um ambiente macroeconômico mais cauteloso e de desafios estruturais no campo, soluções com aplicação direta e potencial de escala imediato vêm ganhando terreno. A biotecnologia, embora siga estratégica no longo prazo, pode ter que reconquistar a confiança do capital de risco com entregas mais tangíveis. Enquanto isso, a combinação entre IA, sensores e automação deve seguir como principal aposta do momento para resolver gargalos operacionais da agricultura global




