Estudo da Embrapa mostra que, até o fim do século, quase todo o território nacional terá risco alto ou muito alto para a produção da folhosa mais consumida do País
Plantar alface em campo aberto no Brasil pode se tornar uma tarefa cada vez mais difícil nas próximas décadas. Essa é a conclusão de um estudo da Embrapa Hortaliças (DF), baseado em projeções do Instituto Nacional de Pesquisas Espaciais (Inpe) e em modelos do Painel Intergovernamental sobre Mudanças Climáticas (IPCC). Os dados indicam que, até 2100, praticamente todo o território nacional estará sob risco climático elevado para a produção da hortaliça mais popular entre os brasileiros.
O levantamento trabalhou com dois cenários: um otimista (RCP 4.5), em que o aumento da temperatura global ficaria entre 2°C e 3°C, e um pessimista (RCP 8.5), que prevê elevação de até 4,3°C e crescimento contínuo das emissões de gases de efeito estufa. Em ambos, as projeções revelam forte impacto no cultivo tradicional da alface, especialmente no verão, quando temperaturas superiores a 40°C devem se tornar mais frequentes em grande parte do País — bem acima do ideal para o desenvolvimento da planta, que exige clima ameno e umidade controlada.
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Para Carlos Eduardo Pacheco, pesquisador em Mudanças Climáticas Globais da Embrapa, compreender esses riscos é fundamental para antecipar impactos. “Isso permite desenhar estratégias de adaptação e evitar prejuízos para produtores e consumidores”, explica.
Diante desse cenário, a pesquisa aponta dois caminhos principais: o desenvolvimento de cultivares mais tolerantes ao calor e a adoção de sistemas de produção adaptados ao clima. Entre eles estão alternativas regenerativas, como o sistema de plantio direto de hortaliças (SPDH) e o uso de compostagem e bioinsumos, além de técnicas que controlam o ambiente produtivo, como estufas, cultivo protegido e zoneamento agroclimático.
Os dados mais alarmantes aparecem nas projeções para o período de 2071 a 2100. No cenário otimista, 79,6% do território brasileiro apresenta risco alto e 17,4% risco muito alto para a produção de alface em campo aberto. Já no cenário pessimista, a situação é ainda mais crítica: 87,7% do território entra na categoria de risco muito alto, restando apenas 11,8% em nível alto.
Para Pacheco, os números reforçam a urgência de repensar os sistemas produtivos. “As hortaliças são mais sensíveis às mudanças do que grandes culturas como milho e soja. Adaptar-se é um desafio que já está colocado.”




