Pesquisa brasileira usa pigmentos do repolho roxo para criar nanofibras com potencial de revolucionar a conservação
Uma inovação desenvolvida por pesquisadores brasileiros promete transformar a forma como avaliamos a qualidade dos alimentos. Trata-se de uma embalagem inteligente, capaz de mudar de cor conforme o produto se deteriora. O sistema foi criado pela Embrapa Instrumentação (SP), em parceria com a Embrapa Agroindústria de Alimentos (RJ) e a Universidade de Illinois, nos Estados Unidos.
A tecnologia utiliza nanofibras reforçadas com pigmentos naturais extraídos do repolho roxo, ricos em antocianinas — substâncias que alteram sua cor de acordo com o pH do ambiente. Nos testes em laboratório, a manta aplicada como embalagem passou de roxo para azul ao monitorar o frescor de filés de peixe, sinalizando a perda de qualidade em tempo real.
Vantagens do processo produtivo
A inovação foi possível graças à técnica de fiação por sopro em solução (SBS, do inglês Solution Blow Spinning). Diferente da eletrofiação, método tradicional para nanofibras, a SBS é mais rápida, escalável e de baixo custo, permitindo a produção em apenas duas horas e com menor consumo de energia.
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Criada em 2009 por cientistas da Universidade Federal da Paraíba (UFPB), da Embrapa e do Departamento de Agricultura dos Estados Unidos (USDA), a técnica já havia sido aplicada em outras áreas, mas ganha agora relevância no setor de alimentos com a incorporação dos pigmentos vegetais.
Aplicação prática no setor de alimentos
A manta desenvolvida combina policaprolactona — polímero biodegradável e resistente — com os pigmentos naturais. Essa estrutura permite que a embalagem detecte mudanças químicas associadas à deterioração, como produção de amônia, aminas voláteis e crescimento bacteriano.
Segundo os pesquisadores, a solução pode ser aplicada especialmente em produtos perecíveis, como peixes e frutos do mar, funcionando como um indicador visual de segurança alimentar. Além disso, o processo valoriza resíduos agroindustriais, já que as antocianinas foram extraídas de sobras de repolho roxo.
Para os cientistas, o desenvolvimento representa um passo importante na criação de materiais de embalagem inteligentes, que podem não apenas melhorar a conservação, mas também contribuir para a redução do desperdício de alimentos.




