O desmatamento de florestas tem influência direta no clima, afirmam cientistas. Pesquisas indicam, aliás, que é um dos principais causadores das mudanças climáticas. Entre as principais consequências, está a ocorrência de eventos cada vez mais extremos: secas intensas, escassez de água, incêndios, aumento do nível do mar, inundações, derretimento do gelo polar, tempestades e diminuição da biodiversidade.
No Brasil, a questão ambiental é tema de debate constante entre ambientalistas e lideranças da agropecuária. Especialmente quando o assunto é a Amazônia.
Em janeiro de 2024, a floresta amazônica chegou a dez mezes seguidos de queda no desmatamento. Conforme do Instituto do Homem e Meio Ambiente da Amazônia (Imazon), a derrubada caiu 60%, de 198 km² em janeiro de 2023 para 79 km². Ainda assim, foi equivalente à perda de mais de 250 campos de futebol por dia e maior do que as do mesmo mês de anos como 2016, 2017 e 2018, por exemplo.
Por que o agro deve ficar atento?
As mudanças climáticas também podem trazer impactos significativos para o agronegócio brasileiro. Em meio à ocorrência de fenômenos climáticos como El Niño e La Niña, as diferentes regiões produtoras do Brasil viveram períodos de excesso ou falta de chuva, além de temperaturas extremas e ondas de calor.
“O cenário deve mudar rapidamente nos próximos meses. Entre julho e agosto, podemos ter o início do La Niña, o que traz impactos extremamente importantes para o agronegócio brasileiro”, afirma Willians Bini, meteorologista e Chief Climate Officer (CCO) da FieldPRO.
De acordo com um estudo publicado em 2021 na revista científica World Development, o desmatamento do Cerrado e da Amazônia fez com que os produtores de soja deixassem de ganhar, em média, US$ 1,3 bilhão entre 1985 e 2012. O levantamento apontou que as altas taxas de desmatamento nos dois biomas resultaram na queda da produtividade e consequentemente da rentabilidade do agronegócio brasileiro.
Os efeitos no campo
Na agricultura, tanto o excesso quanto a a redução dos fatores que regulam a fotossíntese (água, luz, temperatura e CO2) podem alterar a produtividade das lavouras. A temperatura elevada aumenta a retirada de água do solo pelas plantas, o que pode, em pouco tempo, aumentar a deficiência hídrica, gerando consequências importantes na redução da produção.
E, se não chove, não há reposição ou manutenção dos níveis de umidade do solo. E as lavouras expostas às altas temperaturas podem apresentar queda na qualidade e na quantidade das safras. Além disso, ficam suscetíveis à proliferação de pragas e doenças, que encontram no calor excessivo e na mudança de umidade o cenário ideal para se desenvolverem.
Da mesma forma, os animais enfrentam dificuldades em se adequar às mudanças bruscas do clima, e podem sofrer com menos ganho de peso, bem como serem acometidos por problemas de saúde.
As mudanças climáticas também alteram os padrões sazonais de plantio e de colheita, uma vez que as janelas de trabalho de campo podem não encontrar o clima adequado, como por exemplo, as chuvas no momento certo, para o desenvolvimento das lavouras, e a estiagem na época da colheita.
No Brasil, é comum que fenômenos climáticos com La Niña e El Niño provoquem secas ou chuvas em excesso e impactem o desenvolvimento das lavouras. Neste cenário, a disponibilidade de água para irrigação pode ser comprometida.
Combater o aquecimento não é tarefa individual, mas no campo, algumas ações podem mitigar os efeitos das mudanças climáticas, como a adoção de práticas agrícolas sustentáveis, sistemas consorciados, rotativos e integrados.
O avanço de sistemas integração lavoura-pecuária e lavoura pecuária floresta, por exemplo, garante mais eficiência produtiva e uso intensivo do solo, com reduzida emissão de gases de efeito estufa.
Da mesma forma, o uso da biotecnologia na busca por espécies tolerantes a altas temperaturas e deficiência hídrica contribuirá para a migração de uma produção agropecuária para uma produção agroambiental.
Fonte: Globo Rural