Publicado na revista Agriculture, Ecosystems & Environment, o estudo utiliza modelos matemáticos para simular o impacto do aumento da temperatura nas emissões de óxido nitroso (N2O)
Um estudo conjunto realizado pela Embrapa e pela Universidade de Brasília (UnB) revelou que as mudanças climáticas podem ter um impacto significativo na produção de grãos no Cerrado. Publicado na revista Agriculture, Ecosystems & Environment, o estudo utiliza modelos matemáticos para simular o impacto do aumento da temperatura nas emissões de óxido nitroso (N2O), na produção de biomassa e no rendimento de grãos de soja e milho.
Os pesquisadores utilizaram modelos calibrados para as condições do Cerrado e constataram que, com o aumento da temperatura ao longo do tempo, as emissões de N2O aumentarão, enquanto a produção de biomassa e o rendimento de grãos diminuirão. O estudo também destacou que os sistemas agrícolas que utilizam plantas de cobertura, como o Sistema Plantio Direto, apresentam menor emissão de N2O e, em média, são mais produtivos em comparação aos sistemas convencionais.
O estudo, realizado em um experimento de longa duração na Embrapa Cerrados, avaliou diferentes sistemas de uso do solo e utilizou dados de atributos do solo, crescimento das culturas, umidade e temperatura do solo. Os resultados indicaram uma tendência de aumento das temperaturas médias, máximas e mínimas anuais, o que pode afetar negativamente a produção agrícola.
Segundo Fernando Macena, pesquisador da Embrapa Cerrados, “há fortes evidências de que o rendimento de grãos e a biomassa diminuirão com o aumento da temperatura, o que pode ter um impacto grave no setor agrícola da região. Os dados também mostram que há uma tendência crescente em aumento das emissões de N2O no período simulado”, analisa o pesquisador. A expectativa é de que isso ocorra para os dois sistemas de manejo do solo estudados. “Acreditamos que o aumento nas emissões ao longo dos anos está relacionado ao aumento da temperatura e à redução do ciclo das culturas, e que os efeitos são mais pronunciados nos sistemas de manejo do solo convencionais”, completa.
Os pesquisadores ressaltaram a importância de adotar práticas de manejo do solo mais sustentáveis para mitigar os efeitos das mudanças climáticas. “De modo geral, menores emissões de N2O, simuladas ou observadas, podem ser explicadas pela não perturbação do solo (plantio direto) e pela presença de plantas de cobertura, que oferecem maior estabilidade de agregados e predominância de frações mais estáveis da matéria orgânica”, aponta pesquisadora da Embrapa Arminda Carvalho.
O potencial de aquecimento global do N2O é de 265 a 298 vezes maior que o gás carbônico (CO2), com tempo médio de 100 anos de permanência na atmosfera. “Uma melhor compreensão do padrão e das fontes de emissões de N2O dos solos agrícolas é essencial para desenvolver estratégias novas e práticas para limitar a contribuição dos sistemas de cultivo para as alterações climáticas”, aponta a pesquisadora da Embrapa Alexsandra Oliveira.
A intensificação da produção agrícola promoveu aumento do uso de fertilizantes nitrogenados, pois esse nutriente é essencial para manter o potencial de rendimento dos grãos de cereais. Os pesquisadores acreditam que a crescente procura por alimentos, rações e energia provavelmente aumentará significativamente as emissões de N2O dos solos caso as práticas de gestão agrícola permaneçam inalteradas, sem adoção de alternativas biológicas ao uso de adubos químicos, sobretudo os fertilizantes nitrogenados.