Estudo da Unicamp mostra que o metabolismo das fibras pela microbiota ativa a proteína HIF-1, regulando a proliferação das células intestinais.
Uma nova pesquisa do Instituto de Biologia (IB) da Unicamp amplia o conhecimento sobre os benefícios da ingestão de fibras para o intestino. O interior do intestino grosso é um ambiente naturalmente pobre em oxigênio, resultado da intensa atividade metabólica das células epiteliais. Esse cenário, conhecido como hipóxico, é essencial para o funcionamento adequado tanto da microbiota quanto do próprio epitélio intestinal. O estudo, liderado pela nutricionista e pesquisadora de pós-doutorado Pollyana Ribeiro de Castro, traz evidências que a alimentação desempenha papel central nesse equilíbrio, especialmente por meio das fibras.
As descobertas foram publicadas na revista Gut Microbe, aprofundam o conhecimento sobre como a alimentação e a microbiota interagem com o epitélio intestinal, além de abrirem caminho para o desenvolvimento de tratamentos mais eficazes contra doenças intestinais, desde inflamações até câncer.
“Esse é o primeiro trabalho que demonstra a atuação do HIF-1 no controle da proliferação das células do epitélio intestinal”, afirma Castro.
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Ao serem digeridas pelas bactérias intestinais, as fibras dão origem a ácidos graxos de cadeia curta, como o butirato, que servem de energia para as células epiteliais. Esse processo aumenta ainda mais o consumo de oxigênio pelas células, reforçando o ambiente hipóxico e criando um ciclo benéfico de sustentação do epitélio.
Os cientistas observaram que esse ambiente ativa a proteína HIF-1 (fator induzível por hipóxia), responsável por controlar a atividade das células-tronco intestinais. Em modelos animais, verificou-se que o HIF-1 limita a multiplicação dessas células, evitando o crescimento descontrolado do epitélio. Quando a proteína está ausente, ocorre o oposto: proliferação acelerada e aumento exagerado da mucosa.
O estudo utilizou dietas ricas em inulina e comparou roedores com expressão normal da HIF-1 a animais geneticamente modificados que não produziam a proteína no epitélio intestinal. Testes em organoides também confirmaram o papel regulador do HIF-1.
A descoberta reforça a importância do consumo adequado de fibras na manutenção da homeostase intestinal. Segundo os pesquisadores, a proteína atua como um “freio molecular”, garantindo que o epitélio, que se renova a cada três ou quatro dias, mantenha um ritmo saudável de regeneração. Alterações nesse processo podem levar a problemas de absorção, inflamações e até favorecer o surgimento de tumores.
Ao revelar como a alimentação modula esse mecanismo, o estudo abre caminho para novas terapias capazes de ativar ou inibir a HIF-1, oferecendo alternativas promissoras para a saúde intestinal.




