Maior produtor de arroz do Brasil, Estado responde por outros alimentos importantes na mesa do brasileiro
Desde o final de abril, as chuvas intensas e as enchentes do Rio Grande do Sul afetam mais de 1,5 milhão de pessoas em quase 80% dos municípios do Estado, incluindo a capital, Porto Alegre. Cerca de 200 mil estão desabrigadas e aproximadamente 50 mil, alojadas em abrigos. Mas a reboque da consequência climática com um custo humanitário incalculável, há desdobramentos econômicos a serem contabilizados. De todos os setores produtivos, a agropecuária, na avaliação de especialistas, é substancialmente impactada pela tragédia, com reflexos potenciais no abastecimento e na economia nacional.
De acordo com a Secretaria de Planejamento, Governança e Gestão do Rio Grande do Sul, o Produto Interno Bruto (PIB) do Estado foi de R$ 594 bilhões em 2022, com R$ 98,6 bilhões provenientes da agropecuária.
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O Rio Grande do Sul é o maior produtor de arroz do Brasil, respondendo por 70% da produção nacional. Antes de 29 de abril, quando as chuvas chegaram, 83% da área plantada de arroz havia sido colhida. Nos 150 mil hectares que aguardavam a colheita, 30% estão justamente em regiões inundadas. A consultoria Datagro estima a perda de 750 mil toneladas do produto, com prejuízo de R$ 68 milhões.
A cultura de soja é presente em 435 dos 497 municípios do Estado. Na safra 2022/2023, a produção totalizou 12,71 milhões de toneladas de grãos. Em março deste ano, a Emater divulgou que a safra no Rio Grande do Sul seria de 22,24 milhões de toneladas, a maior desde 1970. No entanto, a Conab (Companhia Nacional de Abastecimento) informou que apenas 60% da produção havia sido recolhida do campo. O prejuízo para os produtores, segundo a Datagro deve chegar a R$ 155 milhões.
Na produção de milho, as perdas de 2% a 4%, estimadas pela Datagro, podem atingir R$ 12 milhões. O Rio Grande do Sul se destaca também na cultura de trigo e tem forte representação na fruticultura nacional: a uva é responsável por 53% da produção brasileira e em 2022 foram colhidas no Estado 556 mil toneladas de maçã.
De acordo com o Cepea (Centro de Estudos Avançados em Economia Aplicada), entre todas as hortaliças cultivadas no Estado, a cenoura é a mais prejudicada pelas chuvas. Caxias do Sul deve registrar a maior perda na produção do alimento.
Além de grãos, frutas e hortaliças, o Rio Grande do Sul é um destacado criador e exportador de frango. Em 2022, a carne produzida no Estado foi vendida para 131 países. Com 10 milhões de cabeças de gado, a unidade exportou carne bovina para cerca de 100 países em 2022. Nesse mesmo ano, a produção de carne suína chegou a 1 milhão de toneladas, gerando US$ 622 milhões em exportações. Da mesma forma que a avicultura e a pecuária, a suinocultura sofre os impactos das enchentes com a destruição de pontes e estradas para transportar animais e ração.
Segundo especialistas, ainda não se sabe, com precisão, os prejuízos da consequência climática no Rio Grande do Sul. No entanto, em relatórios preliminares, XP Investimentos e JPMorgan estimam que os efeitos devem se refletir na economia brasileira como um todo.
Diante da dificuldade de estimar os impactos exatos no PIB e nos preços, especialistas das duas instituições comparam as cheias do Sul com as do Rio de Janeiro em 2010-2011. Nesses dois anos, o PIB do Rio ficou dois pontos percentuais abaixo da média nacional. Caso o Rio Grande do Sul sofra o impacto dos mesmos -2%, os reflexos no PIB nacional seriam da ordem de um e dois décimos, avaliam os economistas.