Com novos aportes de grandes fundos globais, a gestora fundada por Al Gore aposta em tecnologias de agricultura e biodiversidade
A Just Climate, gestora ligada à Generation Investment Management, elevou para US$ 375 milhões o volume captado em sua estratégia focada em natureza. O movimento marca uma rodada adicional de US$ 200 milhões, que seguirá aberta até o ano que vem. A expansão reforça o interesse de grandes alocadores internacionais em ativos ambientais, apesar de revisões corporativas e disputas políticas em torno da agenda climática.
A nova captação teve três âncoras: o grupo europeu Achmea, o fundo de pensão Environment Agency Pension Fund, ligado à autoridade ambiental britânica, e o Royal Bank of Canada (RBC). A gestora já havia recebido, no fim de 2024, US$ 175 milhões do fundo de inovação climática da Microsoft e do fundo de pensão CalSTRS.
Segundo Eduardo Mufarej, co-CIO da Just Climate e sócio da Generation na América Latina, o movimento expressa uma tendência firme entre investidores institucionais. “Passamos por crivos muito exigentes. É mais recurso para a natureza”, afirma.
A tese do fundo mira tecnologias relacionadas a agricultura, uso da terra, florestas, água, resíduos e biodiversidade — setores que representam mais de um terço das emissões globais, mas que recebem apenas entre 5% e 10% da alocação de fundos. O tíquete médio é de cerca de US$ 30 milhões por empresa, incluindo recursos reservados para follow-ons.
O novo aporte também permitiu o terceiro investimento da estratégia e o primeiro em um país emergente: a indiana AgroStar. A agtech oferece aconselhamento agronômico digital e estimula a transição para insumos biológicos entre pequenos produtores, reduzindo perdas e impactos ambientais. Usando conectividade 5G e inteligência artificial, a empresa orienta agricultores que operam áreas típicas de um a dois hectares — padrão predominante na agricultura indiana — sobre manejo, pragas e aplicações no momento adequado. O modelo pode se expandir para serviços financeiros, como seguros, crédito e logística.
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Além da AgroStar, a Just Climate já havia investido na britânica NatureMetrics, que usa análise de DNA para medir biodiversidade e abrirá um laboratório no Brasil em parceria com o Senai; e na americana GreenLight Biosciences, que desenvolve defensivos biológicos baseados em RNA, com ação precisa contra pragas e menor impacto sobre polinizadores.
Para Mufarej, a agricultura está evoluindo para um modelo de “medicina de precisão”, com mensuração contínua de solo, carbono, biodiversidade e impactos ambientais. Eventos recentes, como quebras nas safras de cacau e café, ilustram a pressão climática que afeta cadeias globais e aumenta a atenção de empresas, governos e investidores.
A gestora também participou da organização do primeiro encontro de fundos realizado dentro da programação oficial da COP30, reunindo 30 fundos soberanos e de pensão em Belém para discutir a ampliação de investimentos em países emergentes. Segundo Mufarej, mesmo com a ausência dos Estados Unidos e sob forte tensão geopolítica, houve avanços relevantes na mobilização de capital privado. “Hoje, 85% da expansão de energia solar no mundo é financiada pelo setor privado. Precisamos que outros setores cheguem a esse patamar”, afirma.
A discussão sobre combustíveis fósseis enfrentou resistência de países produtores de petróleo e acabou fora do texto final da conferência. Ainda assim, o executivo avalia que a COP entregou resultados significativos. “Foi a COP mais desafiadora dos últimos anos e, ainda assim, com bons resultados. O Brasil cumpriu um bom papel.”
No início de 2025, Mufarej integrou sua gestora Good Karma Partners à Just Climate, fundada pelo ex-vice-presidente americano Al Gore.




