Estudo da universidade mostra que recurso pouco explorado em alternativa saudável e sustentável para lanches
Uma pesquisa da Faculdade de Engenharia de Alimentos (FEA) da Unicamp propõe um novo caminho para o bambu: ingrediente para snacks prontos para consumo. Desenvolvido a partir da farinha de mandioca e da farinha de broto de bambu, o produto é mais rico em fibras e nutricionalmente superior a grande parte dos similares disponíveis no mercado.
A ideia nasceu no mestrado da cientista de alimentos Amanda Rios Ferreira, que utilizou a planta em massas alimentícias. No doutorado, o desafio foi maior: usar a extrusão termoplástica. Nesse processo, os ingredientes são misturados, cozidos e moldados sob condições de alta temperatura e pressão dentro de um equipamento chamado extrusora. O produto, como no caso dos snacks desenvolvidos com as farinhas de broto de bambu e de mandioca, sai da máquina pronto para o consumo, com estrutura porosa, textura crocante e formato definido.
O estudo integra uma linha de pesquisa dedicada à valorização de ingredientes latino-americanos. Enquanto o consumo de broto de bambu é comum em países asiáticos, na América Latina ele é praticamente ignorado. Já a mandioca, embora central na dieta brasileira, ainda é pouco explorada em lanches.
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Foram utilizadas duas espécies comestíveis — Dendrocalamus asper e Phyllostachys nigra. A escolha pelo broto, e não pelo colmo, ocorreu pela maior facilidade de processamento e menor teor de fibras, o que resultou em um produto mais adequado para crianças e pessoas com dificuldades de mastigação.
Desafios técnicos
A pesquisa enfrentou obstáculos como a perecibilidade do broto de bambu, que inicia fermentação em menos de 24 horas, exigindo processamento imediato. Também houve ajustes de temperatura, umidade e proporções para evitar que o excesso de fibras tornasse o produto duro e pouco poroso. Parte do trabalho ocorreu durante a pandemia, exigindo adaptações metodológicas.
Apesar do potencial, ainda há barreiras para a produção em escala. Hoje, a farinha de broto de bambu depende de processos manuais e artesanais, o que limita sua adoção industrial. Para superar esse entrave, pesquisadores da Unicamp, em parceria com a Faculdade de Engenharia Agrícola, desenvolveram uma máquina automatizada para processar o broto, já patenteada pela universidade.
Caminhos para o futuro
Novos estudos do grupo investigam também o efeito prebiótico da fibra do bambu, com resultados promissores em testes biológicos. Para a professora Maria Teresa Pedrosa Silva Clerici, docente e pesquisadora do Departamento de Ciência de Alimentos e Nutrição (Decan) e orientadora do projeto, o avanço vai além da inovação em alimentos:
“Temos tudo para transformar esse ingrediente marginalizado em um símbolo de saúde, sustentabilidade e valorização da biodiversidade brasileira.”




