Com a aprovação regulatória completa nos EUA, Mission Barns se torna a primeira autorizada a comercializar gordura animal cultivada
A Mission Barns, startup fundada em 2018 e sediada na região da Baía de São Francisco, acaba de se tornar a primeira empresa a receber aprovação regulatória para a venda de gordura animal cultivada a partir de células. Após aprovação do FDA no início do ano, a empresa acaba de obter o aval do USDA, que inclui a inspeção da planta de produção e a liberação do rótulo para sua gordura suína cultivada.
O ingrediente vai estrear ainda este ano em dois canais: almôndegas e bacon servidos nos restaurantes Fiorella, em São Francisco, e almôndegas em uma loja da rede Sprouts Farmers Market. Os produtos são uma combinação de proteína vegetal com pequenas quantidades de gordura suína cultivada, ingrediente-chave para melhorar a experiência sensorial. O rótulo dos produtos deixará claro: “Almôndegas cultivadas. Contém carne suína de verdade, sem a proteína suína, carne suína cultivada e proteína vegetal.”
Para a empresa, a gordura cultivada é essencial para dar sabor e suculência a produtos plant-based. Além disso, por crescer mais rápido que o músculo e usar insumos mais baratos, pode representar uma vantagem econômica importante na produção. “Nossa missão sempre foi superar a maior barreira para proteínas alternativas: o sabor”, resume Cecilia Chang, diretora de negócios da Mission Barns.
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A estratégia da empresa é operar como fornecedora de ingredientes para marcas de alimentos, focando em modelos B2B. A produção em larga escala será feita por meio do licenciamento de sua tecnologia de biorreatores para empresas com infraestrutura já existente. Segundo a empresa, a tecnologia desenvolvida permite produzir gordura suína com competitividade frente à gordura convencional em tanques de 20 mil litros.
Com a aprovação regulatória nos EUA, a Mission Barns iniciou conversas com empresas dos setores de carne, ingredientes e CPG para testar o produto em diferentes formatos e medir a aceitação do consumidor. O foco inicial é o mercado americano, mas a empresa já protocolou pedidos em Cingapura e mira oportunidades também em Hong Kong e Europa, onde destaca como diferencial o fato de seu processo não utilizar organismos geneticamente modificados (não OGM).
Apesar das dificuldades enfrentadas pelo setor de carne cultivada, especialmente em termos de financiamento, a empresa já levantou mais de US$ 60 milhões desde sua fundação e está captando novos recursos. Em 2024, o segmento teve apenas duas rodadas relevantes até agora: a Mosa Meat (US$ 43 milhões) e a Ever After Foods (US$ 10 milhões).
Ao incorporar gordura cultivada de origem animal a produtos plant-based, a Mission Barns se posiciona em um território estratégico: atender consumidores que buscam alternativas mais sustentáveis sem abrir mão de sabor e textura. Em um cenário global em que a segurança alimentar passa também por ampliar as fontes de proteínas e reduzir a dependência de sistemas intensivos de produção animal, soluções como essa oferecem uma via possível para escalar inovação e impacto.