Na Unilever, processo de pesquisa e desenvolvimento lança mão da ferramenta para produzir com eficiência e segurança também em tempos de crises de abastecimento
Caldos, molhos, condimentos, temperos, maionese, amido de milho, granola, mix de castanhas, purês, sobremesas, sorvetes. A extensa linha de produtos da Unilever agrega marcas líderes e preferidas do consumidor. Com o compromisso de alimentar 8 bilhões de pessoas hoje no mundo, e a perspectiva de chegar ao ano 2100 com uma população 40% maior, a empresa utiliza a inteligência artificial (IA) como ferramenta auxiliar em soluções produtivas.
“A IA torna o processo de pesquisa e desenvolvimento mais ágil e mais eficiente, não só na resolução de crises de abastecimento, mas para entendermos tendências e mudanças de comportamento de forma mais rápida e efetiva”, afirma Mário Paiva, gerente de P&D e Transformação Digital da Unilever.
Mais popularizada, a IA generativa é apenas uma parte da inteligência artificial. “No horizonte de IA temos várias ferramentas e soluções, dependendo do tipo de tarefa”, diz. Como líder da área de Transformação Digital para a categoria de alimentos na América Latina, Paiva destaca o potencial benéfico da IA, a começar pela modelagem preditiva.
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“Na modelagem preditiva, utilizamos ferramentas para criar modelos de predição de atributos sensoriais. Podemos analisar por meio de IA a formulação de um produto e suas características sensoriais distribuídas, como o teor de percepção de sal e açúcar”, explica. “Não precisamos mais ir para a planta piloto, fazer 30 protótipos, sentar e degustar. Isso economiza tempo, dinheiro e recursos”, completa.
Também com o auxílio da inteligência artificial, é possível predizer a segurança microbiológica de um produto. “Conseguimos fazer formulações com o sistema indicando em 5 minutos se a fórmula é segura do ponto de vista microbiológico para ser colocada no mercado. Sem esta ferramenta, a opção é fazer uma análise real, com amostra em laboratório e prazo de 12 a 16 semanas para avaliação, que custa em torno de R$ 15 mil.”
Sem deixar a IA generativa de fora, a Unilever usa o recurso, a partir de data mining, para criar produtos disruptivos. “São combinações que nunca tínhamos imaginado testar”, afirma Paiva.
Nas soluções de crise, como os eventos climáticos que afetam a produção de alimentos, a IA com base em dados oferece opções para substituir uma matéria-prima por outra.
Em sua experiência com inteligência artificial na Unilever, Paiva ressalta que investir tempo, dinheiro, recursos e cuidados em dados é fundamental. “A IA multiplica efeitos e vieses. Isso significa que também os vieses negativos serão replicados exponencialmente”, alerta.
O executivo destaca a quantidade gigantesca de dados possível de ser analisada com IA. “Podemos lançar na ferramenta dados do consumidor de 20 anos atrás e em questão de minutos ou horas teremos um output jamais analisado somente com o trabalho humano”, diz.
O prompt (ou comando) também é essencial. “A qualidade de comando para IA é proporcional à qualidade do output.”
O fator humano, considerando-se criatividade, paladar, sensorialidade, tomada de decisão, é outro ponto a ser avaliado, segundo Mário Paiva, assim como a governança. “Governança está atrelada à responsabilidade e à ética e prevê benefícios para o negócio sem desconsiderar o bem comum”, conclui.