Estudo internacional analisou mais de 10 mil árvores tropicais e aponta que períodos de estiagem reduzem o crescimento e comprometem a captura de carbono
As florestas tropicais, consideradas peças-chave no equilíbrio climático global, já estão sofrendo com os efeitos das secas mais longas e intensas provocadas pelas mudanças climáticas. É o que revela uma pesquisa publicada na revista Science, conduzida por mais de 150 cientistas, entre eles pesquisadores da Universidade Federal de Lavras (UFLA).
O levantamento avaliou mais de 10 mil árvores de 163 espécies distribuídas em regiões como Amazônia, África, Sudeste Asiático e América Central. Os dados mostram que mesmo pequenas reduções no crescimento dos troncos podem ter consequências significativas: uma diminuição de poucos milímetros aumenta em até 10% as chances de morte das árvores.
A engenheira ambiental e professora da UFLA, Ana Carolina Barbosa, destaca a importância do estudo ao quantificar pela primeira vez o impacto da seca em larga escala:
“Observou-se que as árvores apresentam um crescimento de 2,5% a 3% inferior durante eventos de seca, em comparação com anos de precipitação normal. Esse dado já é um alerta, considerando que a tendência é de aumento da frequência e intensidade desses eventos. Pela primeira vez, foi possível calcular o efeito da seca sobre o crescimento dos troncos em toda a região tropical.”
Leia Mais:
- Indústria de CPG prioriza inovação em detrimento de redução de custos, aponta estudo da Rockwell Automation
- Pesquisa da Unicamp transforma bambu em snacks funcionais
- Embrapa desenvolve tecnologia para fortalecer a produção de macadâmia no Brasil
Essa desaceleração no crescimento ameaça o papel vital das florestas tropicais de retirar dióxido de carbono (CO₂) da atmosfera. Caso a capacidade de captura seja reduzida, haverá maior concentração de gases de efeito estufa, o que acelera o aquecimento do planeta e intensifica fenômenos como ondas de calor, secas prolongadas e eventos climáticos extremos.
Apesar do alerta, os pesquisadores observaram sinais de resiliência: em muitos casos, as árvores conseguiram se recuperar no ano seguinte. Ainda assim, a pressão crescente do desmatamento e da degradação florestal fragiliza essa capacidade. Como lembra Ana Carolina Barbosa, o risco não se limita apenas ao clima:
“Isso coloca em risco não só as florestas em si, mas tudo o que elas representam: abrigo de fauna, espécies ameaçadas de extinção e serviços ecossistêmicos essenciais, como a produção de água e a recarga de lençóis freáticos.”
Diante do cenário, os especialistas reforçam a urgência de reduzir as emissões de gases de efeito estufa e ampliar a proteção das florestas tropicais para garantir que elas continuem cumprindo seu papel fundamental no equilíbrio do clima global.




