De: Valor Econômico
A Raízs quer crescimento tão orgânico quanto seus produtos. Foodtech que elimina intermediários entre os produtores rurais e o consumidor final na cidade, a startup acaba de atingir o breakeven, depois de sete anos queimando caixa, e agora se vê mais protegida da seca no mercado de venture capital. Não é que as captações tenham deixado de fazer parte do plano, mas a partir de agora, o funding que entrar será aproveitado de forma mais estratégica.
“Tanto o dinheiro que agora está sendo gerado no caixa quanto o capital que chegar em futuras rodadas vão ser investidos para crescer e não para sobreviver. Isso muda muito a cabeça da empresa como um todo, não é mais uma mentalidade de sobrevivência, mas de sonho mesmo, de aspiração”, diz Tomás Abrahão, fundador e CEO da Raízs.
O sonho, na verdade, sempre esteve presente. Para tirar a Raízs do papel, em 2016, o fundador lançou um site, que custou R$ 15. Sem conhecer nem um agricultor sequer, ficou de tocaia na frente de grandes supermercados e perseguiu o caminhão de uma distribuidora. “Eu dormia no carro mesmo, na frente dos galpões e, no dia seguinte, bem cedo, os agricultores iam chegando. Eu comecei a conversar com eles, entender como funcionava. Comecei com três, hoje já temos mais de 1,1 mil.”
A ideia era simplificar a cadeia de alimentos para remunerar melhor o agricultor e, ao mesmo tempo, vender produtos orgânicos e de melhor qualidade por um preço mais baixo ao consumidor. No mercado tradicional, uma batata passa por pelo menos cinco estágios até chegar à geladeira de quem vai comê-la: das mãos do produtor, vai à distribuidora rural, que leva até uma representante na cidade, como o Ceasa, depois para o supermercado, até chegar à casa do cliente. O processo gera desperdício de um terço da comida, a Raízs estima.
No entanto, para fazer o negócio sair do negativo, a companhia precisou fazer ajustes. Além de promover corte de custos, a startup renegociou com fornecedoras mais robustas, melhorou as margens de logística e operações e calibrou o portfólio para produtos de maior demanda.
Segundo Abrahão, o uso da inteligência artificial também tem ajudado a deixar a operação mais eficiente, uma vez que é possível ter maior previsibilidade de sua demanda e preparar os produtores para supri-la. Essa tecnologia permite, inclusive, vender produtos que ainda nem foram colhidos, garantindo frescor e menos desperdício — e alguma garantia de faturamento a quem vende. A maior parte dos agricultores tem contrato de exclusividade com a startup.
Na ponta do consumidor, os produtos chegam em média 20% mais baratos do que no supermercado. Há quem prefira o modelo de assinatura, com diversos pacotes a depender da necessidade de cada cliente, e também quem opte pela compra única. O portfólio conta atualmente com 2,5 mil variedades de frutas, verduras e legumes. A Raízs não revela o quanto fatura por ano.
Como parte do esforço para tornar o negócio rentável, a companhia também tem agora um produto de crédito para apoiar os agricultores — que já contavam com um banco de sementes na plataforma. A Raízs conta hoje com seis polos produtivos, na Amazônia, no Nordeste, e no Sul, além de outros dois na Argentina e no Chile, de onde importa frutas de acordo com a época de colheita.
Novas captações estão no plano da foodtech, mas ainda sem um prazo determinado. No ano passado, a startup levantou R$ 20 milhões em sua rodada Série A, liderada pelo fundo Solum Capital e acompanhada pela KPTL. No cap table também estão Marcelo Bazzali, ex-GPA e hoje na Ultragaz; Pedro Navio, executivo da Kraft Heinz; além da recém-chegada Heloisa Guarita, consultora do setor de alimentos e fundadora do RGNutri.