Oceano absorve cerca de um quarto das emissões anuais de CO2 e pH da superfície é o mais baixo dos últimos 26 mil anos
O oceano e sua relação com as mudanças climáticas estiveram em evidência nos debates da reunião temática organizada pelo Ministério da Ciência, Tecnologia e Inovação (MCTI) e o Instituto Nacional de Pesquisas Oceânicas (INPO), unidade vinculada à pasta, realizada nesta quinta-feira. O objetivo do evento foi buscar elementos que ajudem a consolidar o tema na agenda da 5ª Conferência Nacional de Ciência, Tecnologia e Inovação, identificando como a pesquisa e o desenvolvimento tecnológico voltados para o oceano podem auxiliar no combate aos desafios nacionais e colaborar para o posicionamento do Brasil no cenário Internacional.
O oceano absorve cerca de um quarto das emissões anuais de CO2. A interação do dióxido de carbono com a água do mar altera a química do carbonato resultando na redução do pH. Esse processo é conhecido como ‘acidificação’. De acordo com o Sexto Relatório de Avaliação do Painel Intergovernamental sobre Mudança do Clima (IPCC), o pH da superfície do oceano aberto é o mais baixo dos últimos 26 mil anos.
O Relatório do Estado do Clima Global publicado no mês passado pela Organização Meteorológica Mundial aponta que o ano de 2023, além de ter sido o mais quente, quebrou todos os recordes dos indicadores climáticos. De acordo com a publicação, o conteúdo de calor dos oceanos atingiu o nível mais alto em 65 anos de registros observacionais e o conjunto de dados mostra um aumento particularmente forte nas últimas duas décadas.
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“O aumento da temperatura do oceano não é uniforme. O oceano atlântico aparece mais quente comparado a outros áreas oceânicas”, afirmou o coordenador-geral de Ciência do Clima do MCTI, Márcio Rojas, ao apresentar o mapa global.
O aumento do nível do mar por registros de satélites atingiu o máximo histórico e, nos últimos dez anos, é mais que o dobro comparado ao início dos registros em 1993. O aquecimento contínuo e o derretimento de glaciares e camadas de gelo estão entre os fatores que contribuíram. “Os impactos estão ficando cada vez mais frequentes e mais intensos à medida que a mudança do clima avança”, disse Rojas.
A secretária de Políticas e Programas Estratégico do MCTI, Marcia Barbosa, destacou a cooperação com outros ministérios, como Meio Ambiente e Pesca, e outras instituições para articular instrumentos e ações que envolvam o tema oceano. No âmbito internacional, Barbosa mencionou a recente viagem à Rússia e a possibilidade de cooperação científica na região do Ártico para detectar gases de efeito estufa e de microplástico. “Seremos capazes de trazer soluções coordenas para os desafios para o Brasil”, disse.
O diretor-geral do INPO, Segen Estefen, destacou a finalidade da reunião temática em contribuir para reforçar o oceano como agenda prioritária nacional e internacional e a necessidade de tratar o tema de modo multidisciplinar, envolvendo diferentes conhecimentos na ciência, na tecnologia e na inovação. “O oceano e as mudanças climáticas são intimamente ligados, nos dois sentidos. O oceano é influenciado pelas mudanças climáticas e influencia as mudanças climáticas. Precisamos entender isso melhor”, afirmou o diretor.
O secretário da Comissão Interministerial para os Recursos do Mar da Marina do Brasil, contra-almirante Ricardo Jaques Ferreira, destacou os planos de estabelecer um acordo de colaboração técnica com o INPO para assessoramento na implementação do planejamento espacial marinho, especialmente em áreas envolvendo uso e preservação.
“Nas situações em que tivermos uma discussão mais aprofundada para sabermos em que direção a matriz vai caminhar, queremos contar com o apoio da rede de pesquisadores do INPO. Sem a ciência não conseguimos chegar aos resultados que o País precisa”, afirmou o contra-almirante Jaques.
A diretora de Oceano e Gestão Costeira na Secretaria de Mudanças do Clima do Ministério do Meio Ambiente, Ana Paula Prates, lembrou que o tema oceano alcançou destaque na Conferência do Clima em Dubai, está em evidência nas conferências de meio ambiente e de ciência e tecnologia e no governo. “Estamos falando principalmente da relação entre oceano e clima”, afirmou. “Temos muitos desafios e oportunidades”, complementou ao mencionar a recuperação de áreas degradadas e a manutenção da saúde do oceano para que se mantenha e permaneça como um regular climático global, absorvendo calor e gases de efeito estufa.