sexta-feira, 11/10/2024
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Mudanças climáticas aumentam o risco de fungo e ameaça a produção de trigo

Pesquisa da Embrapa Trigo mostra que doença pode reduzir em 13% a produção do grão

 

 

As mudanças climáticas estão agravando a disseminação da brusone, uma doença fúngica que ataca as folhas e espigas do trigo, comprometendo a qualidade do cereal e colocando em risco a segurança alimentar global. Segundo uma pesquisa recente da Embrapa Trigo, a doença tem potencial para afetar até 13,5 milhões de hectares de cultivo de trigo, o que poderia reduzir em 13% a produção mundial do grão.

Identificada pela primeira vez no trigo no Brasil em 1985, a brusone rapidamente se espalhou para outras regiões, sendo hoje uma das principais ameaças à produção desse cereal. O fungo, que já era um problema antigo para o arroz, desenvolve-se com maior intensidade em condições de altas temperaturas e alta umidade, típicas de climas tropicais e subtropicais. No entanto, o que chama a atenção dos cientistas é o fato de que o patógeno tem se adaptado a ambientes mais frios e secos, um fenômeno que vem sendo impulsionado pelas mudanças no clima global.

 

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Nos últimos anos, surtos da doença foram relatados em regiões com climas historicamente mais frios, como no norte de Bangladesh, onde o fungo tem sobrevivido a condições de seca e baixas temperaturas. No Brasil, especificamente no Rio Grande do Sul, as temperaturas mais elevadas durante o inverno de 2023 resultaram em focos localizados de brusone em lavouras de trigo, principalmente na região noroeste do estado. O aumento das temperaturas mínimas, que chegaram a 15°C durante a safra, foi apontado como fator determinante para a disseminação do fungo.

Segundo projeções do Painel Intergovernamental sobre Mudanças Climáticas (IPCC), o aumento das temperaturas globais favorecerá ainda mais a propagação da brusone, afetando regiões que antes não enfrentavam esse problema. A estimativa é que, até 2050, a doença possa se espalhar para todos os continentes onde o trigo é cultivado, exceto a Antártida.

Além do Brasil, a brusone já causou perdas significativas em outros países da América do Sul. Na década de 1990, uma epidemia afetou três milhões de hectares de trigo na região, resultando em perdas de até 80% em lavouras da Bolívia e 70% no Paraguai. Nos anos seguintes, o fungo se expandiu para Argentina e Uruguai, com o surto mais recente registrado em 2023 no território uruguaio.

O impacto global projetado é alarmante. De acordo com o Centro Internacional de Melhoramento de Milho e Trigo (CIMMYT), as áreas de cultivo vulneráveis à brusone na América do Sul podem saltar de 13% para 30%. Além disso, países que até então não sofriam com a doença, como Estados Unidos, França e Japão, também estão na mira. O cenário previsto para 2050 indica que a brusone pode atingir 13,5 milhões de hectares, levando a uma queda na produção global de até 69 milhões de toneladas anuais.

Diante dessa ameaça, os cientistas têm buscado estratégias para conter a disseminação do fungo. No Brasil, a Embrapa Recursos Genéticos estuda o uso de mutações genéticas para combater a doença no arroz, o que pode abrir caminho para soluções semelhantes no trigo. Além disso, as práticas de manejo agrícola e a pesquisa de novas variedades de trigo mais resistentes à brusone são vistas como essenciais para mitigar os efeitos da doença.

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