Segundo o relatório do Good Food Institute (GFI), globalmente, houve um investimento de US$ 523 milhões em 2023
Canadá e União Europeia lideram em termos de financiamento público para proteínas alternativas, enquanto a Ásia é uma região para se observar este ano, de acordo com um novo relatório publicado pelo think tank da indústria Good Food Institute (GFI).
O relatório cita ainda que o Brasil, embora não tenha anunciado financiamentos no ano passado, pode ser tornar relevante no cenário global, já que a “priorização da sustentabilidade, da economia verde e da agricultura de baixo carbono pelo novo governo é promissora para o campo”.
Governos estão investindo mais capital e implementando políticas mais favoráveis para proteínas alternativas, reconhecendo seu potencial como solução para mudanças climáticas, segurança alimentar, saúde pública e emprego – mas ainda têm “muito terreno a percorrer”, segundo o relatório.
O financiamento público no setor alcançou US$ 523 milhões no ano passado, queda de 12,6% em relação aos US$ 599 milhões investidos na indústria em 2022.
O GFI destacou que os países precisam investir US$ 10,1 bilhões anualmente para que a indústria alcance seu pleno potencial – isso representa um aumento de quase 30 vezes.
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Quanto às proteínas alternativas mais populares, houve uma disputa acirrada entre inovações à base de plantas (US$ 189 milhões) e derivadas de fermentação (US$ 181 milhões). A carne cultivada ficou com apenas US$ 40 milhões em investimentos governamentais, enquanto US$ 112 milhões foram reservados para uma combinação dessas proteínas.
O relatório destaca Alemanha e Reino Unido como as estrelas de 2023 por seu aumento substancial nos gastos com proteínas alternativas. A Alemanha superou seu financiamento total em proteínas alternativas (US$ 35 milhões), com US$ 44 milhões investidos no ano passado. A Alemanha também reservou US$ 41,3 milhões em seu orçamento federal para 2024 para desenvolver a capacidade de produção de proteínas alternativas e ajudar os agricultores na transição para a agricultura baseada em plantas. E, em março deste ano, adotou uma estratégia nacional de nutrição recomendando que alimentos à base de plantas representem pelo menos 75% da dieta das pessoas.
Enquanto isso, o Reino Unido anunciou um centro de pesquisa de agricultura celular de US$ 15,3 milhões, financiou mais de 20 projetos de pesquisa e incluiu carne cultivada e fermentação em um plano nacional de biotecnologia de US$ 2,2 bilhões. Também recebeu suas duas primeiras aplicações de carne cultivada da Aleph Farms e Ivy Farm Technologies em 2023 (seguidas pela Vital Meat no mês passado) e agora está revisando seus regulamentos pré-Brexit para abrir caminho para outras empresas.
Embora o Reino Unido e a Alemanha possam estar se tornando grandes players, seus investimentos são amplamente superados por outros países. O Canadá lidera com US$ 129 milhões investidos em proteínas alternativas em 2023. Isso se deve em grande parte à alocação de US$ 112 milhões pela Protein Industries Canada, uma parceria público-privada para proteínas novas e um dos clusters econômicos do país. Foi seguido pela União Europeia (US$ 113 milhões) e pelos Estados Unidos (US$ 82 milhões). Antes de 2023, a Dinamarca era líder nesta lista, investindo um total de US$ 223 milhões no setor – mas caiu no ano passado, com apenas US$ 891 mil em financiamento de proteínas alternativas.
Países com avanços regulatórios
Singapura sempre foi um porta-bandeira da regulamentação progressiva quando se trata de proteínas alternativas, mas no ano passado os EUA se juntaram como único outro país a aprovar a venda de carne cultivada, com a Good Meat e a Upside Foods lançando seus produtos de frango cultivado em restaurantes. Os dois países já haviam dado sinal verde à empresa de fermentação de precisão Remilk para suas proteínas de soro recombinante, e seu país de origem, Israel, juntou-se a essa lista, concedendo aprovação em abril. Israel também se tornou o terceiro país a liberar carne cultivada para venda no início deste ano. E Singapura seguiu sua aprovação de 2020 do Good Meat ao dar luz verde ao Vow, da Austrália.
Os países para ficar de olho
Entre os seis países que a GFI destacou como preparando o terreno para investimentos significativos no setor, metade está na Ásia. O Ministério de Ciência e Tecnologia da Índia anunciou uma Política Nacional de Biomanufatura que inclui proteínas alternativas como um pilar chave e criou um programa de financiamento para a indústria de proteínas vegetais.
Em novembro de 2023, o Japão aceitou uma proposta de três empresas para P&D sobre carne wagyu cultivada, focada em escala e comercialização. E a China “ofereceu incentivos generosos aos players da indústria” – embora os números exatos de investimento não sejam conhecidos, sua indústria de carne cultivada cresceu por ser um ambiente de custo mais baixo do que na Europa ou nos EUA.
Além de mencionar o Brasil, o relatório mostra que a África do Sul se tornou o primeiro país do continente a fazer um investimento público em fermentação de precisão, injetando US$ 700 mil no desenvolvimento de proteínas do soro pela DeNovo FoodLabs. E, na Espanha, o governo regional da Catalunha concedeu US$ 7 milhões para a construção de uma instalação de escalonamento para proteínas à base de plantas e fermentadas.