Parlamento Europeu aprova proposta que proíbe termos como “bife vegetariano” e “hambúrguer vegetal”, reacendendo debate sobre transparência no setor
O Parlamento Europeu aprovou nesta quarta-feira (8) uma proposta que proíbe o uso de termos tradicionalmente associados à carne — como bife, salsicha e hambúrguer — em produtos feitos à base de vegetais. Por 355 votos a favor e 247 contra, os eurodeputados decidiram restringir expressões como “bife vegetariano” e “hambúrguer vegetal”, sob o argumento de garantir clareza e transparência para os consumidores.
A proposta, formulada pela direita e ainda sujeita a negociação com os Estados-membros da União Europeia, foi defendida pela eurodeputada Céline Imart, do Partido Popular Europeu. Segundo ela, o objetivo não é restringir alternativas à base de plantas, mas reafirmar o significado original dos termos ligados à carne animal.
A medida, no entanto, dividiu opiniões dentro do próprio Parlamento. O deputado alemão Peter Liese classificou a discussão como “absurda”, afirmando que expressões como “hambúrguer vegetariano” são claras para o público. Já representantes verdes e progressistas criticaram o que chamam de pressão do lobby da carne, que estaria tentando limitar o crescimento de concorrentes inovadores do setor vegetal.
Leia Mais:
- Mudanças climáticas podem comprometer rebanhos e segurança alimentar, alerta estudo
- Microplásticos podem alterar o intestino humano e afetar até a saúde mental, revela estudo
- Estudo mostra que suplementos de vitamina D2 podem impactar a saúde óssea
O tema reflete uma tensão crescente entre tradição e inovação. Nos últimos anos, o consumo de alimentos vegetais que imitam carne tem avançado rapidamente na Europa, impulsionado por preocupações ambientais, éticas e de saúde. A pecuária é responsável por cerca de 14,5% das emissões globais de gases de efeito estufa, e reduzir a dependência de proteínas animais é visto como estratégia-chave para mitigar o impacto climático.
Brasil ainda sem regras claras
Enquanto o debate avança na Europa, o Brasil ainda não possui regulamentação específica sobre o uso de termos como “carne vegetal” ou “carne de soja”. A ausência de normas abre margem para interpretações divergentes e gera insegurança jurídica para empresas e consumidores.
Um projeto de lei em tramitação no Congresso desde 2022 propõe proibir o uso de palavras como “carne”, “leite” e “peixe” em produtos vegetais, sob o argumento de evitar confusão sobre a origem dos alimentos. No entanto, o governador de São Paulo vetou, em agosto de 2024, uma proposta semelhante em nível estadual, decisão comemorada por entidades como a Sociedade Vegetariana Brasileira (SVB).
Para a SVB, restringir o uso do termo “carne” prejudicaria tanto consumidores quanto produtores, além de dificultar o avanço de um setor que tem crescido mundialmente como alternativa sustentável à proteína animal.
Com o tema novamente em discussão na Europa, especialistas avaliam que a decisão do bloco europeu poderá influenciar legislações e debates em outros países, incluindo o Brasil, onde a demanda por alimentos de base vegetal segue em expansão.




