Startup Phagos desenvolve terapia com vírus naturais para combater bactérias em rebanhos e abre caminho para uma novos medicamentos sustentáveis
A startup francesa Phagos está desenvolvendo uma alternativa inovadora aos antibióticos: medicamentos baseados em bacteriófagos, vírus naturais que infectam e destroem bactérias específicas. A proposta é usar a chamada “terapia fágica” para tratar infecções em rebanhos e reduzir a dependência global de antibióticos — um dos maiores desafios da saúde pública e da produção animal.
Os fagos, presentes em todos os ecossistemas do planeta, de rios ao intestino humano, atuam de forma altamente seletiva, eliminando apenas bactérias patogênicas sem afetar outras células. Essa precisão os torna uma alternativa promissora para conter a resistência antimicrobiana (RAM), problema que ameaça causar até 39 milhões de mortes nos próximos 25 anos, segundo estimativas da Organização Mundial da Saúde (OMS).
Combinando microbiologia e inteligência artificial, a plataforma Alphagos, desenvolvida pela Phagos, identifica cepas bacterianas e seleciona fagos capazes de neutralizá-las, criando tratamentos ultradirecionados e personalizados. O sistema é constantemente atualizado para acompanhar mutações bacterianas e manter a eficácia das terapias.
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Inicialmente voltada à saúde animal, a tecnologia já é aplicada em setores como avicultura, bovinocultura, suinocultura e carcinicultura, com soluções adaptáveis a diferentes ambientes produtivos. A empresa acredita que o uso da terapia fágica pode ajudar a reduzir perdas na pecuária, preservar o bem-estar animal e proteger a segurança alimentar — especialmente em um contexto de restrições globais ao uso profilático de antibióticos.
“Acreditamos que a terapia fágica pode transformar a história da medicina, assim como os antibióticos fizeram no século passado”, afirmam os fundadores da Phagos, Alexandros Pantalis e Adèle James.
A empresa, fundada em 2021, também registrou uma patente para sua plataforma de IA e trabalha para ampliar a aplicação da tecnologia na saúde humana. O avanço ocorre em um momento de alerta da OMS, que classificou o pipeline global de novos medicamentos antibacterianos como “insuficiente” diante da velocidade de evolução das bactérias resistentes.
A empresa recebeu aporte de €25 milhões para acelerar a implementação de suas terapias veterinárias e expandir sua atuação internacional. O diferencial da Phagos está no potencial científico e ambiental de uma abordagem que une biotecnologia e natureza.
Com a terapia fágica, a empresa francesa sinaliza um novo paradigma para a saúde global, em que a inovação tecnológica e a biologia natural se unem na busca por soluções sustentáveis contra a resistência bacteriana.




