Medidas visam equilibrar balança comercial e aumentar arrecadação, mas especialistas e setores produtivos alertam para possíveis impactos negativos
Com a posse de Donald Trump como presidente dos Estados Unidos, uma série de políticas comerciais e fiscais está sendo implementada com o objetivo de fortalecer a economia nacional. Entre as principais ações estão a imposição de novas tarifas sobre importações e a criação do “Serviço de Receita Externa” (External Revenue Service, ERS), destinado a coletar receitas provenientes do comércio exterior.
Em seu discurso inaugural, Trump enfatizou a importância das tarifas como instrumento para enriquecer o país: “Em vez de taxar nossos cidadãos para enriquecer outros países, tarifaremos e taxaremos países estrangeiros para enriquecer nossos cidadãos.” Ele anunciou a criação do ERS para gerenciar a arrecadação de tarifas, direitos e outras receitas comerciais, prevendo uma entrada significativa de recursos nos cofres públicos provenientes de fontes estrangeiras.
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Uma das medidas em consideração é a imposição de uma tarifa de 25% sobre as importações do México e do Canadá a partir de 1º de fevereiro. Além disso, a administração Trump emitiu um memorando intitulado “Política Comercial América Primeiro”, direcionando agências federais a investigarem as causas dos persistentes déficits comerciais dos EUA e a recomendarem medidas apropriadas, incluindo a possível implementação de uma tarifa suplementar global.
Entretanto, setores produtivos, especialmente os ligados à produção e exportação de alimentos, estão expressando grande preocupação com os impactos dessas políticas. Os Estados Unidos são um dos maiores exportadores de produtos agrícolas e alimentícios, com mercados internacionais representando uma parcela significativa das receitas de indústrias como a de carne, grãos e laticínios. Representantes desses setores temem que a imposição de tarifas acabe desencadeando retaliações de países parceiros, prejudicando o comércio exterior e reduzindo a competitividade dos produtos americanos no mercado global.
Jeff Schott, membro sênior do Instituto Peterson de Economia Internacional, alerta que o aumento das tarifas pode não apenas elevar os custos para consumidores e empresas americanas, mas também desencadear retaliações que impactariam negativamente setores estratégicos, como o alimentício. Ele destaca que, embora as tarifas possam gerar receita adicional, o custo para as indústrias que dependem de exportações pode ser significativo, afetando empregos e a economia regional em estados com forte produção agrícola.
Além disso, a criação do ERS também levanta questões sobre sua eficácia e necessidade, uma vez que a arrecadação de tarifas já é realizada por órgãos existentes, como a Alfândega e Proteção de Fronteiras dos EUA. Críticos argumentam que a nova agência pode introduzir redundâncias burocráticas sem oferecer benefícios claros.
À medida que a administração Trump avança com essas iniciativas, o equilíbrio entre proteger os interesses econômicos nacionais e manter relações comerciais saudáveis com outros países permanece uma questão central. Para o setor alimentício, que é altamente dependente de mercados globais, as novas políticas trazem incertezas que podem impactar tanto a economia quanto a segurança alimentar global. Observadores aguardam para ver como essas políticas serão implementadas e quais serão seus impactos a longo prazo na economia americana e nas relações comerciais internacionais.