Com alta no consumo durante a Semana Santa, especialistas alertam para os impactos ambientais e os entraves da produção global do peixe mais simbólico da Páscoa brasileira
Na Sexta-feira Santa, o bacalhau reina absoluto nas mesas de milhares de famílias brasileiras, respeitando a tradição cristã de não consumir carne vermelha. Mas, por trás do prato clássico que atravessa gerações, há uma cadeia produtiva pressionada por desafios ambientais, geopolíticos e econômicos que colocam em xeque a sustentabilidade do peixe mais icônico da Semana Santa.
Especialistas do setor já alertaram que o modelo atual de produção e pesca do bacalhau – tradicionalmente originado da Noruega e de países do Atlântico Norte – enfrenta um momento crítico. As mudanças climáticas, a sobrepesca e os altos custos logísticos colocam em risco o equilíbrio do ecossistema marinho e a estabilidade da oferta global.
Além disso, o bacalhau salgado e seco que chega ao Brasil é, muitas vezes, fruto de cadeias produtivas pouco transparentes, o que torna difícil garantir práticas sustentáveis do início ao fim. O impacto ambiental do modelo extrativista é crescente, pressionando governos e empresas a buscar soluções alternativas — entre elas, a aquicultura controlada e o investimento em peixes substitutos de sabor e textura similares.
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Nesse cenário, a inovação surge como resposta. Países como a Noruega e o Chile têm apostado em modelos de aquicultura mais sustentáveis, com uso de tecnologia de ponta, controle sanitário rigoroso e menor impacto ambiental. Ainda assim, especialistas explicam que o bacalhau, por ser um peixe de águas profundas e frias, é mais difícil de reproduzir em cativeiro do que outras espécies, como o salmão.
Enquanto isso, no Brasil, o consumo segue alto especialmente nesta época do ano. E com ele, crescem também os preços nas gôndolas, reflexo direto da escassez e da complexidade logística. Para o consumidor, a escolha de marcas certificadas e de origem confiável é uma forma de contribuir para um sistema mais equilibrado e responsável.
Entre tradição e transformação, o bacalhau continua sendo símbolo de fé, memória afetiva e gastronomia — mas também um reflexo das urgências ambientais e produtivas que o mundo precisa enfrentar.