Terrana Biosciences promete levar “vacinas programáveis” às plantas e transformar o manejo agrícola com tecnologia sustentável
A Flagship Pioneering, conhecida por ser a força por trás da Moderna e outras gigantes de bioinovação, acaba de lançar sua mais nova aposta: a Terrana Biosciences. Com um aporte inicial de US$ 50 milhões, a startup quer transformar a forma como cultivamos alimentos, aplicando tecnologias baseadas em RNA para proteger e aprimorar as plantas de maneira mais sustentável.
A proposta da Terrana é ambiciosa. Sua plataforma tecnológica promete desenvolver características de proteção e melhoramento de cultivos por meio de moléculas de RNA que realmente entram nas plantas — diferente de tentativas anteriores em que o RNA ficava apenas na superfície das folhas e se degradava rapidamente. Para o CEO e cofundador Ryan Rapp, isso abre caminho para o que ele chama de “vacinas programáveis para plantas”, capazes de preparar os sistemas imunológicos das lavouras contra vírus, fungos e outros patógenos.
“Algumas das culturas que cultivamos hoje estão intimamente ligadas a determinadas geografias. Essa tecnologia dá uma margem de manobra para mantermos a produtividade enquanto buscamos soluções permanentes para as mudanças climáticas”, explica Rapp. Ele cita os pomares de cerejeiras no noroeste do Pacífico como exemplo: com invernos cada vez mais quentes, produtores precisam ou se mudar para o Canadá ou substituir suas árvores — duas soluções caras e lentas. A tecnologia da Terrana poderia permitir que as plantas florescessem mesmo sem o frio necessário, simplesmente com uma pulverização no verão.
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Além de adaptação climática, a plataforma tem potencial para revolucionar o controle de pragas e doenças. Em vez de 16 pulverizações anuais de químicos, como ocorre hoje nas lavouras de soja do Brasil para controlar a ferrugem asiática e outros fungos, uma única aplicação dos produtos da Terrana poderia garantir a mesma proteção.
Prevenir, proteger, aprimorar: um novo paradigma
A tecnologia da Terrana é construída sobre três frentes complementares. A primeira, “prevenção”, usa pequenas moléculas de RNA para ensinar as plantas a reconhecer vírus ainda não encontrados, funcionando como uma vacina preventiva. A segunda, “proteção”, entrega peptídeos e proteínas diretamente às plantas para combater doenças já instaladas. Por fim, a frente “aprimoramento” leva proteínas ou genes de tolerância a estresses como seca e frio, permitindo ganhos de produtividade e resiliência.
O pipeline já inclui mais de 100 produtos potenciais para culturas como tomate, milho e soja, além de culturas especiais. Nos próximos meses, a startup concentrará esforços em testes em maior escala, essencial para levar suas soluções ao mercado.
Para Rapp, o impacto da plataforma vai além de produtividade: “Estamos adicionando mais uma ferramenta ao arsenal agrícola, uma que pode reduzir drasticamente a dependência de químicos, combater a resistência e simplificar a vida dos produtores.”