Empresa belga desenvolve processo de fermentação e torrefação inovador que pode aliviar pressão no mercado global de café e manter rituais de consumo tradicionais
A startup Koppie, sediada na Bélgica, está entrando no mercado de café alternativo com uma tecnologia disruptiva que transforma leguminosas como grão-de-bico e ervilha-amarela em “grãos” de café alternativos. Esse processo, que combina fermentação e torrefação em etapas sequenciais patenteadas, cria um produto que pode ser moído e preparado como o café tradicional, oferecendo uma solução promissora para enfrentar a crescente volatilidade no mercado global de café.
O coração da inovação da Koppie está no processo de fermentação e torrefação, que utiliza leguminosas locais e abundantes como matéria-prima. Segundo Daan Raemdonck, cofundador da startup, o segredo da tecnologia está na sinergia entre as cepas microbianas utilizadas, nas condições em que operam e na sequência de etapas cuidadosamente orquestradas.
“Escolhemos leguminosas como o grão-de-bico por sua disponibilidade local e versatilidade, mas nossa tecnologia é agnóstica quanto ao tipo de leguminosa. O diferencial está em como otimizamos o processo para criar um produto com características semelhantes ao café tradicional”, explica Raemdonck.
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Além disso, o método da Koppie se integra à infraestrutura de produção de café existente, permitindo que torrefadores utilizem equipamentos já disponíveis, como torradores e moedores, simplificando a adoção industrial e reduzindo custos de investimento.
O problema que a Koppie resolve
As mudanças climáticas têm reduzido drasticamente as áreas adequadas para o cultivo do café, especialmente da variedade Arábica, preferida por consumidores no mundo todo. Estima-se que, até 2050, a área de cultivo de Arábica pode cair 50%, ao passo que a demanda por café continua a crescer, especialmente em mercados emergentes como China e Índia.
Essa combinação de aumento na demanda e redução na produtividade gera volatilidade nos preços e ameaça a disponibilidade global do produto. “Com a produtividade sob pressão e os preços em alta, soluções inovadoras como a Koppie são essenciais para manter o mercado sustentável”, destaca Raemdonck.
Estratégia de mercado
Diferentemente de outras startups de café alternativo que apostam em marcas diretas ao consumidor (B2C), a Koppie adota uma abordagem B2B, fornecendo seu produto como ingrediente para torrefadores e grandes empresas de café. A startup já está em negociações com players do mercado europeu e planeja lançar sua tecnologia em escala comercial até o primeiro trimestre de 2026.
Essa estratégia permite que grandes marcas de café integrem o produto Koppie em suas misturas de forma quase imperceptível para o consumidor final. “Quando você mistura Koppie com café, nem vê, sente ou cheira a diferença”, afirma Raemdonck, destacando que o perfil de sabor é mais semelhante ao Arábica do que ao Robusta.
Potencial de mercado e próximos passos
Com um recente aporte pré-seed liderado pela Nucleus Capital, a Koppie planeja expandir sua capacidade de produção de quilos para toneladas até o final do ano, com testes de mercado programados com grandes empresas de café.
O sucesso inicial já se reflete em avaliações por especialistas do setor: o produto Koppie recebeu uma pontuação de 70/100 por Q-Graders independentes, rivalizando com cafés comerciais de alta qualidade. A meta é atingir a pontuação de 80/100, elevando o produto ao status de café especial.
“A Koppie oferece uma combinação única de sabor, ritual de preparo e versatilidade. Sua abordagem inovadora pode transformar o mercado global de café e criar uma alternativa sustentável para um setor em crescente pressão”, conclui Maximilian Schwarz, sócio da Nucleus Capital.