sexta-feira, 14/02/2025
spot_imgspot_img
InícioOpiniãoO que aprendi sobre a ascensão, queda e futuro da indústria plant-based

O que aprendi sobre a ascensão, queda e futuro da indústria plant-based

Por Andre Menezes*

 

 

No mundo das startups e da inovação, poucos setores geraram tanto fervor e entusiasmo quanto a indústria de alimentos plant-based entre 2018 e 2022. O que começou como um movimento para usar tecnologia alimentar para criar alternativas aos produtos de origem animal rapidamente se tornou um símbolo de esperança para sustentabilidade, saúde e lucratividade. No entanto, ao olharmos para a trajetória dessa indústria, fica evidente que a jornada está longe de ser simples.

O desafio inicial enfrentado pelos pioneiros deste setor foi desenvolver a tecnologia para replicar as características que os consumidores buscam em produtos de origem animal. Embora as primeiras versões de alimentos plant-based tenham ficado aquém das expectativas, o cenário evoluiu rapidamente, com empresas investindo milhões para aperfeiçoar produtos como carne moída, hambúrgueres e nuggets, tornando-os quase indistinguíveis de seus equivalentes de origem animal. Esse salto tecnológico abriu caminho para o que parecia ser uma marcha inevitável rumo ao domínio de um mercado trilionário.

À medida que as empresas se preparavam para escalar, investidores despejavam capital, e a indústria experimentava um crescimento exponencial. No entanto, em meio ao entusiasmo e otimismo, surgiu uma estagnação surpreendente. Apesar das projeções de crescimento contínuo, os números começaram a estabilizar. A demanda, que parecia insaciável, deu sinais de arrefecimento após um excelente desempenho em 2020.

A mudança de sentimento em 2022 foi sísmica. As taxas de juros subiram, os números de vendas estagnaram, e gigantes da indústria lutaram para atender às expectativas. O que antes era considerado o futuro da alimentação de repente enfrentou ventos contrários de críticos, campanhas de desinformação e ataques de incumbentes estabelecidos. A narrativa em torno das carnes plant-based mudou, e o que era visto como tecnologia revolucionária passou a ser rotulado como uma moda passageira.

Ainda assim, em meio ao pessimismo, há lições a serem aprendidas e oportunidades a serem aproveitadas. Uma coisa que ficou clara em retrospectiva é que a adoção do consumidor é mais complexa do que se imaginava inicialmente. Embora sustentabilidade e bem-estar animal ressoem com um segmento da população, isso não é suficiente para sustentar o crescimento exponencial imaginado por investidores.

O que levou ao declínio do plant-based

O cerne da questão está na própria base da ascensão da indústria. Ela não foi impulsionada por uma demanda inerente e sustentada dos consumidores, mas sim por um aumento na conscientização e curiosidade. Embora essa faísca inicial tenha levado a um aumento nas compras experimentais, ela não conseguiu estabelecer uma base sólida de demanda contínua.

Crucialmente, o setor negligenciou uma pergunta fundamental: os consumidores estão genuinamente motivados a reduzir o consumo de carne ao tomar decisões de compra? A realidade é que apenas um pequeno segmento da população—composto por veganos, vegetarianos, defensores da sustentabilidade e indivíduos preocupados com a saúde—busca ativamente alternativas à carne. Este segmento, embora apaixonado, é insuficiente para sustentar o crescimento massivo previsto por investidores e stakeholders da indústria.

 

Leia Mais:

 

 

A saúde surgiu como um fator significativo por trás da adoção de dietas plant-based. Preocupações com os níveis de colesterol e os riscos à saúde associados à carne vermelha levaram muitos a explorar alternativas plant-based. Mas essa ênfase na saúde também tornou a indústria vulnerável a ataques.

Empresas ameaçadas pelo movimento plant-based em ascensão lançaram campanhas agressivas questionando os benefícios à saúde dos produtos plant-based. De ingredientes a processos de fabricação, esses esforços visavam minar as vantagens percebidas para a saúde.

A convergência desses fatores—falta de demanda sustentada, motivação limitada dos consumidores além de um segmento de nicho e ataques direcionados às alegações de saúde—contribuiu para o declínio da indústria. Com o aumento das taxas de juros, a estagnação das vendas e as dificuldades enfrentadas pelos titãs do setor, a narrativa em torno das carnes plant-based mudou drasticamente.

As oportunidades para fundadores e investidores

O declínio de 2023 serviu como um duro choque de realidade, levando as empresas a reavaliar suas estratégias e os investidores a repensar seus portfólios. No entanto, em meio aos desafios, há uma oportunidade para introspecção e adaptação. Ao focar em atender às reais necessidades dos consumidores, fortalecer as alegações de saúde e cultivar uma demanda sustentável, a indústria de alimentos plant-based pode traçar um caminho para a resiliência e o ressurgimento.

O caminho a seguir exige uma reavaliação sóbria de estratégias e um foco nos fundamentos. A consolidação é inevitável, e os players lucrativos com pelo menos $100 milhões em receita anual estão melhor posicionados para sobreviver (e até se beneficiar) do status quo. Nesse contexto difícil, reter talentos será cada vez mais desafiador, já que os profissionais ficarão ansiosos sobre as perspectivas da indústria e, consequentemente, seus potenciais ganhos.

Em última análise, o sucesso da indústria de alimentos plant-based não é apenas uma questão de lucro, mas uma necessidade para a saúde do nosso planeta. Ao enfrentarmos os desafios que estão por vir, é imperativo que fundadores, investidores e líderes do setor colaborem para garantir a longevidade e viabilidade deste setor.

 

* Andre Menezes, fundador e ex-CEO da produtora de carnes plant-based Tindle Foods, explora o período de altos e baixos da indústria vegana pós-pandemia e para onde ela está caminhando.
RELACIONADAS

DEIXE UMA RESPOSTA

Por favor digite seu comentário!
Por favor, digite seu nome aqui

spot_img

Mais lidas

Últimos comentários