Startup israelense desenvolve tecnologia para produção eficiente de proteínas de caseína em larga escala, com foco na redução de custos e sustentabilidade
A Plantopia, startup israelense de agricultura molecular anteriormente conhecida como Pigmentum, está desenvolvendo uma produção em escala piloto de proteínas de caseína utilizando aveia germinada. A iniciativa, prevista para o segundo semestre de 2025, visa produzir laticínios sem origem animal de forma mais econômica e sustentável, buscando atender às demandas do mercado por alternativas competitivas.
Fundada em 2018 por Amir Tiroler, Prof. Alexander Vainstein e Tal Lutzky, a Plantopia inicialmente utilizava alface como plataforma de produção. No entanto, a mudança para aveia foi motivada pela maior eficiência na produção de todas as quatro proteínas de caseína (alfa S-1, alfa S-2, beta e kappa). Segundo Tal Lutzky, cofundador e diretor da startup, a aveia germinada oferece vantagens significativas, como maior velocidade de produção, menos problemas regulatórios e menor risco de alérgenos, além de poder ser cultivada em ambientes fechados.
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Diferente de outras abordagens no campo de laticínios sem origem animal, que produzem apenas algumas proteínas de caseína, a Plantopia combina todas as quatro proteínas em plantas separadas. Após a extração, elas são unidas a sais e minerais para se automontarem em micelas — estruturas presentes naturalmente no leite de vaca que conferem funcionalidade aos laticínios. O processo replica as modificações pós-traducionais que ocorrem em uma vaca, garantindo estabilidade e funcionalidade às proteínas para aplicações alimentares.
Tecnologia inovadora e produção econômica
A Plantopia utiliza duas abordagens para incentivar a aveia a expressar proteínas lácteas. A primeira é o desenvolvimento de plantas transgênicas capazes de transmitir essa característica às gerações futuras. A segunda, considerada menos onerosa em termos regulatórios, é a expressão transitória: plantas selvagens recebem instruções genéticas por meio de uma agrobactéria, que permite a produção temporária de caseína sem alterações permanentes no genoma.
De acordo com Lutzky, as proteínas resultantes desse processo podem ser classificadas como não-OGM em algumas jurisdições, desde que o produto final esteja livre de material genético residual. A startup planeja submeter o processo ao reconhecimento GRAS (Generally Recognized as Safe) para comercialização nos Estados Unidos.
Além disso, o produto final da Plantopia não exige pureza absoluta para ser funcional. Com cerca de 70% a 80% de caseína, o restante da composição inclui proteína de aveia, fibras e outros componentes vegetais, o que contribui para reduzir custos e atender às expectativas do consumidor.
Crescimento e desafios no mercado
Recentemente, Noah Klein foi contratado como diretor comercial da Plantopia para auxiliar na transição da startup da fase de pesquisa e desenvolvimento para a comercialização. Segundo Klein, o setor de laticínios sem origem animal enfrenta desafios relacionados a custo e qualidade. Ele aponta que tecnologias baseadas em fermentação de precisão, amplamente utilizadas por concorrentes, são caras e muitas vezes inviáveis para atender ao mercado.
“A agricultura molecular une qualidade e custo competitivo, os dois imperativos necessários para o sucesso no mercado”, explicou Klein.
A Plantopia também busca resolver frustrações com alternativas vegetais aos laticínios, especialmente na categoria de queijos, que muitas vezes não replicam o derretimento e a textura dos produtos tradicionais. A startup atrai o interesse de empresas de CPG e laticínios tradicionais, motivadas pela redução das emissões de gases de efeito estufa e pela diminuição da dependência de produtos de origem animal.
Apesar das dificuldades enfrentadas por investidores nesse segmento, Lutzky está confiante:
“Houve muitas promessas não cumpridas neste espaço, mas acreditamos que nossa tecnologia pode entregar proteínas de caseína funcionais de maneira mais econômica e escalável.”
A Plantopia arrecadou US$ 7,5 milhões até o momento e busca expandir por meio de novas parcerias e rodadas de investimento. A expectativa é que sua abordagem inovadora reposicione o mercado de laticínios sem origem animal nos próximos anos.