A microbiologista Mariangela Hungria é reconhecida internacionalmente por inovações que transformaram o Brasil em potência agrícola sustentável
Nesta terça-feira (13), a microbiologista Mariangela Hungria, da Embrapa Soja, tornou-se a primeira mulher brasileira a receber o prestigiado World Food Prize, considerado o “Nobel da Agricultura”. O prêmio, concedido pela fundação homônima nos Estados Unidos, reconhece avanços científicos que impactam diretamente a produção e a disponibilidade de alimentos no mundo.
Criado em 1986 por Norman Borlaug, agrônomo e vencedor do Nobel da Paz, o prêmio já homenageou outros brasileiros, como Edson Lobato e Alysson Paolinelli (2006), além do ex-presidente Luiz Inácio Lula da Silva (2011).
Com mais de 40 anos de dedicação à ciência agrícola, Mariangela Hungria é um dos nomes mais relevantes no uso de insumos biológicos no Brasil. Suas pesquisas possibilitaram a adoção de microrganismos benéficos que substituem parcial ou totalmente os fertilizantes químicos, promovendo a fixação biológica de nitrogênio e outras soluções inovadoras.
Essa tecnologia já é utilizada em aproximadamente 40 milhões de hectares, gerando uma economia anual de US$ 25 bilhões e evitando a emissão de mais de 230 milhões de toneladas de CO₂. Seu trabalho também ampliou o uso de inoculantes para culturas como feijão, milho, trigo e pastagens, antes restrito à soja.
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“A ideia central é produzir mais utilizando menos insumos, menos terra e com menor impacto ambiental”, afirmou Mariangela em comunicado oficial.
A fundação responsável pelo prêmio destacou que sua trajetória científica “transformou a sustentabilidade da agricultura na América do Sul”, servindo como exemplo global de inovação e resiliência.
Trajetória marcada por pioneirismo e determinação
Natural de Itapetininga (SP), Mariangela Hungria formou-se engenheira agrônoma pela Esalq/USP e possui mestrado, doutorado e pós-doutorado por instituições renomadas, como Cornell e University of California-Davis. Desde 1991, está vinculada à Embrapa Soja, em Londrina (PR), onde liderou pesquisas que inicialmente enfrentaram ceticismo, mas hoje são amplamente reconhecidas por sua eficiência e relevância.
Foi uma das primeiras cientistas no Brasil a defender a fixação biológica de nitrogênio, um processo que elimina a dependência de adubos nitrogenados. Essa abordagem ganhou ainda mais relevância diante de crises no fornecimento e aumento dos custos de fertilizantes importados.
Além de sua atuação na Embrapa, Mariangela é professora na Universidade Estadual de Londrina e na Universidade Tecnológica Federal do Paraná, incentivando a próxima geração de cientistas.
“Espero que minha conquista inspire outras mulheres a seguirem seus sonhos na ciência”, declarou a pesquisadora.