Cientistas de Singapura criaram scaffolds porosos inspirados na forma de cubos de açúcar comerciais para produzir estruturas escaláveis de carne cultivada
A produção em larga escala de scaffolds (estruturas comestíveis) e o cultivo eficiente de tecidos adiposos ainda representam desafios técnicos para a comercialização da carne cultivada. Essas estruturas fornecem suporte para que células se multipliquem e se transformem em tecidos, replicando a textura e o sabor da carne tradicional. No entanto, a maioria dos scaffolds disponíveis é feita de materiais sintéticos ou de origem animal, o que os torna caros e não comestíveis.
Pesquisadores da Universidade Nacional de Singapura desenvolveram uma solução inovadora usando uma nova estrutura proteica à base de plantas. A equipe identificou a secalina, uma proteína encontrada no centeio e na cevada, como fonte ideal para a criação de scaffolds comestíveis.
Utilizando um método de lixiviação de moldes (template-leaching), os cientistas criaram scaffolds porosos inspirados na forma de cubos de açúcar comerciais. Essa abordagem, que está em processo de patente, resolve obstáculos comuns no desenvolvimento de scaffolds, como custo, funcionalidade e escalabilidade. Segundo os pesquisadores, a nova tecnologia representa um grande avanço para a indústria de agricultura celular.
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Os scaffolds de secalina são altamente porosos (85–90%) e interconectados, oferecendo excelente estabilidade em meio aquoso para o cultivo de tecido adiposo. A resistência mecânica dessas estruturas pode ser ajustada alterando a proporção entre proteína e açúcar, além de tratamentos de pós-annealing em água. Com moldes maiores, a produção pode ser escalada para atender demandas comerciais.
Após 12 dias de cultivo de células adiposas de porco nesses scaffolds, os pesquisadores obtiveram tecido adiposo comparável ao encontrado em carne suína convencional. O estudo revelou que tanto pré-adipócitos murinos (3T3-L1) quanto células-tronco adiposas derivadas de porco (ADSCs) conseguiram se infiltrar, aderir e se proliferar nas estruturas de secalina, reproduzindo de forma eficaz a textura, aparência e perfil de ácidos graxos do tecido natural.
A equipe também está desenvolvendo um meio de diferenciação com ingredientes alimentares para controlar a composição de ácidos graxos, visando melhorar o valor nutricional da gordura cultivada.
Em estudos anteriores, a equipe já havia 3D-printado scaffolds comestíveis feitos de prolaminas de cereais, como milho, cevada e centeio, e testado seu uso com células-tronco de porco para cultivar carne.
Com essa inovação, a Universidade não só avança na produção de carne cultivada, como também reforça seu compromisso com soluções ecológicas e acessíveis para transformar o setor alimentício global.